Mensalão
O jornal Estado de São Paulo – Estadão – em sua edição de
hoje, publica amplo material sobre o depoimento que o publicitário Marcos Valério,
considerado o principal operador do mensalão, prestou à Procuradoria-Geral da
República dias depois de teer sido condenado pelo STF.
São acusações que envolvem, inclusive, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva que, segundo Valério, teria autorizado os empréstimos e se
beneficiado pessoalmente do dinheiro. Todos os detalhes do depoimento estão nas
páginas do Estadão e são reproduzidos aqui. Acompanhe.
Machado Filho
Valério:
Lula deu 'ok' a empréstimos do mensalão
Novas acusações fazem parte de depoimento prestado por
empresário mineiro à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro, dias
após ser condenado pelo STF
O empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza disse no depoimento prestado em setembro à
Procuradoria-Geral da República que o esquema do mensalão ajudou a bancar
"despesas pessoais" de Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio a uma série
de acusações, também afirmou que o ex-presidente deu "ok", em reunião
dentro do Palácio do Planalto, para os empréstimos bancários que viriam a
irrigar os pagamentos de deputados da base aliada.
Valério ainda afirmou que Lula atuou a fim de obter dinheiro da
Portugal Telecom para o PT. Disse que seus advogados são pagos pelo partido.
Também deu detalhes de uma suposta ameaça de morte que teria recebido de Paulo
Okamotto, ex-integrante do governo que hoje dirige o instituto do
ex-presidente, além de ter relatado a montagem de uma suposta
"blindagem" de petistas contra denúncias de corrupção em Santo André
na gestão Celso Daniel. Por fim, acusou outros políticos de terem sido
beneficiados pelo chamado valerioduto, entre eles o senador Humberto Costa
(PT-PE).
A existência do depoimento com novas acusações do empresário
mineiro foi revelada peloEstado em
1.º de novembro. Após ser condenado pelo Supremo como o "operador" do
mensalão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral da República.
Queria, em troca do novo depoimento e de mais informações de que ainda afirma
dispor , obter proteção e redução de sua pena. A oitiva ocorreu no dia 24 de
setembro em Brasília - começou às 9h30 e terminou três horas e meia depois; 13
páginas foram preenchidas com as declarações do empresário, cujos detalhes eram
mantidos em segredo até agora.
O Estado teve acesso à íntegra do depoimento,
assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela
subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da República
Raquel Branquinho.
Valério disse ter passado dinheiro para Lula arcar com "gastos
pessoais" bem no início de 2003, quando o petista já havia assumido a
Presidência. Os recursos foram depositados, segundo o empresário, na conta da
empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud
Godoy, uma espécie de "faz-tudo" de Lula.
O operador do mensalão afirmou ter havido dois repasses, mas só
especificou um deles, de aproximadamente R$ 100 mil. Ao investigar o mensalão,
a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, agência de
publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito foi feito, segundo dados
do sigilo quebrado pela comissão, em 21 e janeiro de 2003, no valor de R$
98.500.
Segundo o depoimento de Valério, o dinheiro tinha Lula como
destinatário. Não há detalhes sobre quais seriam os "gastos pessoais"
do ex-presidente.
Ainda segundo o depoimento de setembro, Lula deu o
"ok" para que as empresas de Valério pegassem empréstimos com os
bancos BMG e Rural. Segundo concluiu o Supremo, as operações foram fraudulentas
e o dinheiro, usado para comprar apoio político no Congresso no primeiro
mandato do petista na Presidência.
No relato feito ao Ministério Público, Valério afirmou que no
início de 2003 se reuniu com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o
tesoureiro do PT à época, Delúbio Soares, no segundo andar do Palácio do
Planalto, numa sala que ele descreveu como "ampla" que servia para
"reuniões" e, às vezes, "para refeições".
Ao longo dessa reunião, Dirceu teria afirmado que Delúbio,
quando negociava com Valério, falava em seu nome e em nome de Lula. E
acertaram, ainda segundo Valério, os empréstimos.
Nessa primeira etapa, Dirceu teria autorizado o empresário a
pegar até R$ 10 milhões emprestados. Terminada a reunião, contou Valério, os
três subiram por uma escada que levava ao gabinete de Lula. Lá, na presença do
presidente, passaram três minutos. O empresário contou que o acerto firmado
minutos antes foi relatado a Lula, que teria dito "ok".
Dias depois, Valério relatou ter procurado José Roberto Salgado,
dirigente do Banco Rural, para falar do assunto. Disse nessa conversa que
Dirceu, seguindo orientação de Lula, havia garantido que o empréstimo seria
honrado. A operação foi feita. Valério conta no depoimento que, esgotado o
limite de R$ 10 milhões, uma nova reunião foi marcada no Palácio do Planalto.
Dirceu o teria autorizado a pegar mais R$ 12 milhões emprestados.
Portugal Telecom. Em outro episódio avaliado pelo STF, Lula foi novamente colocado
como protagonista por Valério. Segundo o empresário, o ex-presidente negociou
com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, o repasse de recursos
para o PT. Segundo Valério, Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, reuniram-se com Miguel Horta no Planalto e combinaram que uma
fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria R$ 7 milhões
para o PT. O dinheiro, conforme Valério, entrou pelas contas de publicitários
que prestaram serviços para campanhas petistas.
As negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da
viagem feita em 2005 a Portugal por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino,
e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.
Segundo o presidente do PTB, Roberto Jefferson, Dirceu havia
incumbido Valério de ir a Portugal para negociar a doação de recursos da
Portugal Telecom para o PT e o PTB. Essa missão e os depoimentos de Jefferson e
Palmieri foram usados para comprovar o envolvimento de José Dirceu no mensalão.(Estadão)