SUS recebe duas mulheres por hora
vítimas de abuso
O SUS (Sistema Único de Saúde)
recebeu em seus hospitais e clínicas uma média duas mulheres por hora com
sinais de violência sexual em 2012, segundo dados do Ministério da Saúde.
A constatação ocorre no momento em
que a comunidade internacional discute na ONU a violência contra a mulher. O
debate ocorre sob um clima de comoção após brutais estupros coletivos de jovens
na Índia e na África do Sul desencadearem ondas de revolta social.
No Brasil, segundo o Sistema de
Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) do Ministério da Saúde, um total de
18.007 mulheres deram entrada no sistema público de saúde em 2012 apresentando
indícios de terem sofrido violência sexual.
A maioria delas (cerca de 75%), de
acordo com a pasta, eram crianças, adolescentes e idosas.
O sistema Viva começou a ser
implantado em 2006 em algumas unidades de referência do SUS. Em 2011, a
notificação de casos suspeitos passou a ser universalizada para todas as
unidades.
No ano passado, as estatísticas
foram fornecidas por 8.425 unidades do SUS.
Essas estatísticas funcionam apenas
como um indicador, pois não englobam casos de violência nos quais a mulher não
procurou atendimento médico ou se dirigiu a uma unidade de saúde privada.
A falta de estatísticas integradas
sobre abusos sexuais na esfera da segurança pública é uma das principais
críticas da ONU ao Brasil na questão do combate à violência contra a mulher.
"Não há dados oficiais
disponíveis sobre o número de estupros de mulheres no Brasil", afirmou à
BBC Brasil Rebeca Reichmann Tavares, diretora regional para o Brasil e Cone Sul
da ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e
Empoderamento das Mulheres).
"Algumas secretarias de
segurança tomam a iniciativa de fazer este levantamento, assim como alguns
hospitais, mas não existe uma unificação ou cruzamento de dados", disse.
Estupro
Um dos fatores que coloca o governo brasileiro em alerta é que na maioria
dos casos de violência sexual o criminoso é uma pessoa próxima à vítima.
"O agressor não é desconhecido
em 60% ou 65% dos casos. Ele é conhecido, é o padrasto, o pai, o namorado, o
amante, o vizinho o avô. Isso nos preocupa muito", disse à BBC Brasil a
ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República.
Segundo ela, a lei possibilita o
atendimento das vítimas em um sistema de saúde especializado e permite que uma
eventual gravidez seja interrompida, de acordo com a vontade da mulher.
"Estamos readequando esse
serviço. Agora o estupro também acontece na rua, mas ele acontece dentro de
casa na maioria dos casos", disse a ministra. "Incentivamos muito a
mulher a denunciar."
Segundo dados da secretaria, o
número de relatos de abuso sexual contra mulheres pelo serviço Ligue 180 passou
de 320 em 2006 para 1.686 em 2012.
(Com IG)