Em
campanha
Durante
jantar com empresários, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB),
afirmou que exisdtem muitas coisas que podem ser feitas no Brasil e que “criticar
o governo, não é ser contra o governo”. Não existe, na opinião do governador,
espaço para o que classificou de “debate maniqueísta: eu sou o bem e você é o
mal”.
Reproduzo
a matéria, publicada na coluna da jornalista Mônica Bérgamo, daFolha de São Paulo,
na íntegra.
Eduardo
Campos: “Dá para fazer muito mais que Dilma”
"Dá
para fazer muito mais" que a presidente Dilma Rousseff. Com esse, digamos,
slogan, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), de Pernambuco, passou seu recado
a um grupo de 60 empresários que se reuniram na quinta-feira (14) em SP, num
jantar, para conhecê-lo melhor --e descobrir se ele é, mesmo, candidato à
presidência. Boa parte saiu de lá com a certeza de que Campos vai, sim, se
lançar contra Dilma em 2014.
O
encontro foi na casa do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo. E Campos soltou
o verbo.
Começou
dizendo que o Brasil teve grandes conquistas nas últimas décadas --e logo
engatou crítica que a oposição sempre fez a Lula, a Dilma e ao PT: "O
Brasil não começou ontem. Não começou com o partido A, B ou C".
Na
sequência, engrossou o coro dos que dizem que as coisas no país vão bem --mas
podem piorar. "Não há grande incômodo nas grandes massas. Não há na classe
média esse sentimento, nem de forma generalizada no empresariado. Mas há, nesse
instante, nas elites, grande preocupação com o futuro. Há o sentimento de que
as coisas podem piorar."*
Os
"florais aplicados em todas as crises" não funcionaram desta vez, diz
Campos. "E mais do que de repente começa uma série de medidas, em série,
em relação a vários setores, sobretudo, no início, na área do petróleo",
segue, referindo-se aos pacotes lançados por Dilma. "Há um sobressalto
daqueles que foram atingidos e daqueles que não foram atingidos por
medidas." Para ele, "se estabelece uma ansiedade total".*
"E
a tudo isso se somou a antecipação do debate eleitoral", segue o
governador, referindo-se, sem citar o nome de Lula, ao fato de o ex-presidente
ter lançado Dilma à sucessão presidencial. "Um debate maniqueísta, eu sou
o bem, você é o mal."*
Na
sequência, Campos passa a criticar a campanha presidencial de 2010, quando
Dilma Rousseff disputou com José Serra (PSDB-SP). "Nós tivemos uma
campanha das mais pobres do ponto de vista do conteúdo. Acusação de lá, defesa
de cá. Acusação de cá, defesa de lá. Sinceramente, não dá para respeitar como
um debate à altura dos desafios do Brasil. E isso deixou as coisas desamarradas
para o futuro."*
"Um
monte de político se junta e diz: 'Olha, a gente precisa ganhar a Presidência
da República'. É como dizia o meu avô [Miguel Arraes]: na política, você
encontra 90% dos políticos atrás de ser alguma coisa. Dificilmente eles sabem
para que."*
É
chegada a hora, portanto, de debater. E é o que o governador está fazendo,
ainda que desperte a ira de Lula, de Dilma e do PT --até então seus aliados.
"Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer
crítica não é ser contra, não é ser inimigo."*
E
crítica é o que não falta. "O estado que está aí, as políticas, as normas
como são feitas, precisam evoluir."*
"Dá
para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para
ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria
desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos
valores."
"Dá
pra fazer muito mais", repete Campos. Para, então, disparar o torpedo:
"E isso não vai ser feito se a gente não renovar a política. O pacto político
que hoje está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu
ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer. As últimas
eleições no parlamento brasileiro [em que Renan Calheiros foi eleito presidente
do Senado com o apoio de Dilma e do PT] são uma indicação. É ficar de costas
para tudo isso."*
O
governo, além de tudo, "às vezes não dialoga". A solução "é
falar com o governo pela imprensa. Não quer me receber? Você pode tuitar. Eu,
por exemplo, tive a oportunidade de dar a minha opinião sobre a Medida
Provisória dos Portos pela imprensa, porque não tive a oportunidade de discutir
[com Dilma] antes. Apesar de o meu estado ter o porto público mais eficiente do
Brasil. Eu podia até ser convencido de que estava certo. Mas não custava nada
ouvir a mim e a outros."*
"Quanto
mais popularidade o governo tiver, mais paciência e diálogo deve ter",
afirma. "E popularidade vai e vem. Popularidade é uma coisa. Voto é outra
coisa.*
O ano,
afirma ele, deveria ser o da construção de "convergências políticas".
"E nós corremos um sério risco de botarmos 2013 fora."*
"Enquanto
o Brasil diz que tem o petróleo do pré-sal, importa gasolina. A Petrobras, que
já foi 'case' de sucesso lá fora, tá cheia de problema. E aí? Vamos ficar discutindo
a eleição que vai ter em 2014 ou o país? Porque daqui a pouco a gente não sabe
nem o que vai encontrar em 2014, entendeu? Precisamos encontrar em 2014 um país
em que seja possível fazer algo para ele melhorar. E, sinceramente, a gente não
pode ficar pelos cantos, constrangido em fazer o debate."*
Campos
diz que a presidente Dilma conhece suas críticas. E mais: sabe também que seu
partido, o PSB, o pressiona para se lançar candidato à presidência. "Quem
disse a ela não foram terceiros, fui eu mesmo", afirma. "Ela sabe o
que o meu partido pensa e sabe os sonhos que meu partido tem. Se esses sonhos
vão ser realizados ou não, é outra coisa."*
Ele
então faz uma ressalva: "Só não vamos nos meter em aventura. E não vamos
ajudar a destruir o que nós construímos. Nós queremos é seguir adiante, não é
desmanchar as coisas boas que foram feitas. Nós queremos fazer mais coisas
boas". Continuidade, mas com liderança renovada.*
Campos
finaliza a conversa da noite sem assumir que é candidato. "Não vamos
entrar num debate eleitoral. Cada um tem seu relógio. Ninguém é obrigado a
andar no fuso horário dos outros. (Mônica Bérgamo/Folha SP)