Black Blocs se articulam em 23 estados
No Maranhão, os integrantes da página dos Black Blocs no
Facebook contam a história da Balaiada, movimento popular rebelde formado por
"escravos aquilombados e caboclos" que tomou a segunda maior cidade
do Maranhão no século 19. Os de São José dos Campos colocaram na internet a
imagem da "mãozinha do curtir" segurando um coquetel molotov.
Já
os goianos, assim como os demais, se dizem anarquistas e afirmam que "sua
"pátria é o mundo inteiro" e "sua lei é a liberdade". No
Pará, a bandeira brasileira está pintada de preto e vermelho, com o "A na
bola", símbolo do anarquismo, no lugar do Ordem e Progresso.
Quase
dois meses depois do começo dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL),
discussões virtuais e presenciais sobre o uso da violência como estratégia
política nas manifestações de rua já são feitas em 23 Estados. Por enquanto, só
Amapá, Tocantins, Sergipe e Acre ainda não têm fóruns de internet dos Black
Blocs.
A
página mais popular dos Black Blocs no Facebook é a do Rio, com mais de 18 mil
seguidores. Em São Paulo, além da capital e de São José dos Campos, outras
cinco cidades têm fóruns de discussão anarquistas (Ribeirão Preto, Rio Preto,
Rio Claro, Piracicaba e Sertãozinho). Os cearenses fizeram o documentário Com
violência, sobre as ações do grupo na Copa das Confederações, com mais de 50
mil acessos no YouTube.
No
7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, eles pretendem promover um
"badernaço" nacional. A articulação vem sendo feita na página do
Black Bloc Brasil, com quase 40 mil seguidores. "Muitos dos jovens que
estão usando essa estratégia da violência nas manifestações vieram das
periferias brasileiras. Eles já são vítimas da violência cotidiana por parte do
Estado e por isso os protestos violentos passam a fazer sentido para
eles", afirma o professor Rafael Alcadipani Silveira, coordenador de
pesquisas organizacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Silveira tem
acompanhado as discussões virtuais dos anarquistas e esteve nos últimos dois
protestos.
Esses manifestantes passaram a argumentar que depredação não
é violência, mas uma intervenção simbólica que atinge o cerne do capitalismo: a
proteção à propriedade. De acordo com essa filosofia, seriam atos violentos
somente as ações que ferem os indivíduos.
Na atual fase brasileira, onde o Estado está em descrédito, a
moda da violência e da anarquia acabou pegando mais do que as outras,
contagiando rapidamente a nova geração de jovens. É só
uma fase, já vivida pela Argentina e pela Espanha em épocas de crise política.
"São momentos de indignação", diz. A violência, no entanto, costuma
escurecer qualquer bola de cristal. (Agência Estado)