Meu pai
Ainda hoje, quando fico quieto com meus pensamentos, quando
consigo retornar para os meus tempos de guri, vejo a figura do meu pai, passos
firmes e fortes passando pela casa, bem cedo da manhã, impecavelmente fardado, saindo
para o quartel. Um beijo na minha mãe e lá ia ele, deixando na casa o perfume
marcante de seu inseparável lenço.
Ele só voltava ao final da tarde, depois de
mais um dia no quartel. Meu pai foi um soldado e, mesmo tendo passado por quase
todos os postos militares, conservou por toda a vida a postura que fazia dele “um
milico”, como ele gostava de dizer.
A vida dura e cheia de dificuldades fez com meu pai
transferisse para nós, seus oito filhos, a importância da responsabilidade, da
honestidade, do respeito.
Hoje, quando em quase todas as casas se comemora o Dia
dos Pais, sinto um vazio imenso pela falta que o Capitão Machado faz para todos
nós, seus filhos, netos, bisnetos, genros e noras.
Já não temos mais o pai na cabeceira da mesa, nem
convivemos com o seu perfume, com seu orgulho fardado de militar. Mas temos
aquilo que ele plantou em cada um de seus filhos, a certeza de que a vida, por
mais difícil, por mais obstáculos que apresente, é o espaço que Deus permitiu a
cada um para mostrar que a dignidade, a força e o amor devem estar presentes em
tudo o que fizermos. Meu pai deixou para todos nós, a felicidade de ter
aprendido a viver como ele.
Se hoje não teremos o almoço que a mãe preparava com todo
o carinho, ficaremos com a luz que ele ascendeu em nossas vidas.
Vou beijar, abraçar e falar com meus filhos com o mesmo
carinho e com o mesmo amor com que ele me tratou por toda a vida.
Um beijo, MEU PAI!