Sei que muita gente estava esperando pela terceira e última parte do texto do Cesar Cabral sobre a exigência, ou não, do diploma de jornalista. Problemas, digamos assim, técnicos, impediram que publicasse o texto antes. Publico hoje e aproveito para anunciar um novo texto do Cesar, como sempre, imperdível. Breve!
Exigência de diploma:
Um lobby e uma solução torta
Cesar Cabral*
Penso que não se pode confundir exigir do jornalista que
tenha uma sólida formação cultural, e intelectual, que é o domínio da
inteligência, com ter um simples diploma universitário de faculdades de baixo
nível curricular, como condição única para exercer a profissão; para ser
contratado por uma empresa. A obrigatoriedade do diploma de jornalista é
resultado do lobby das quase I50 faculdades de jornalismo existentes no Brasil,
por razões óbvias, junto ao Congresso Nacional.
A exigência do diploma para obter o registro foi a solução
torta encontrada para acabar
com os “carteiraços de jornalistas”. Até então, as empresas, os sindicatos e as
associações
forneciam a “carteira de jornalista”, pois a profissão já
era regulamentada desde I938. Com ela o “feliz portador”, muitas vezes, não
pagava cinema, teatro,todo tipo de espetáculo, entrava de graça nos estádios de
futebol, nos clubes sociais, boates, cabarés, puteiros diversos e onde mais
quisesse. E havia cem vezes mais pessoas com “carteira de jornalista” do que
jornalistas nas redações; a maior parte estava na mão de larápios,
aproveitadores e outros sacripantas.
Conheci muitos deles. A exigência de diploma acabou com
isso, mas não com a incompetência e a falta de caráter de muitos. Com ou sem
diploma de jornalista a imprensa, e os jornalistas, difamam, mentem, manipulam.
Muitos acreditam estar acima do bem e do mal e, por isso, acham-se intocáveis.
A dita grande imprensa, os “jornalões”, em qualquer país
está nas mãos da elite dominante
e seus jornalistas amestrados seguem o riscado; com ou sem
diploma. Os berlusconis e os
murdoques estão espalhados pelo planeta defendendo os
interesses deles e de quem mais
convém a eles. Os jornais sempre foram ideológicos, fundados
e criados para defender ideias; republicanos, monarquistas, religiosos,
comunistas, socialistas, nazistas, fascista...e assim por diante. O diabo é que
atualmente “nesçepahisz” não há contra ponto, não há alternativa; exceção a
alguns “blogs”, talvez. Não falo em imprensa alternativa/pasquim. Refiro-me a
jornais revistas, emissoras de radio e de televisão com linhas editorias que
nos deem enfoques diversos sobre fatos idênticos. Estão todos absolutamente
iguais. O maior pautando o menor. Nada de novo. Apenas que mal sabem escrever,
afora luxuosas exceções, é claro.
Uma ofensa aos professores e o mau exemplo de um ignorante
A Folhinha, um caderno da Folha de São Paulo feito para
leitores ainda criança, completou 50 anos de idade por esses dias. Otavio Frias
Filho, diretor de redação e dono do jornal, escreve um pequeno artigo às
crianças. Conta que quando era uma delas, queria ser cientista, depois médico,
depois astronauta, arqueólogo. E quando percebeu que não conseguiria ser
nenhuma, já adulto, suponho, tentou ser advogado. Mas já que não sabia nada
pensou em ser professor. “Se não sabia fazer nada, quem sabe soubesse ensinar
os outros a fazer?” Mas aos pouco, porém, escreve o diretor do jornal às
crianças, “percebi que era jornalista. Um verdadeiro ignorante, que sabe um
pouquinho sobre muitas coisas. Mas um ignorante curioso, que sempre quer saber
mais sobre tudo”.
Não sei quantas crianças pré-adolescentes leem a Folhinha.
Porém, ainda que seja apenas uma só, o advogado por formação acadêmica,
jornalista por se achar um ignorante e dono do jornal por herança de família,
plantou uma mentira.
Mas foi assim que o diretor de redação da Folha de São Paulo
tentou e conseguiu ser jornalista sem diploma e “um ignorante que sabe um
pouquinho sobre muitas coisas”. Meu caro leitor não é assim que penso e nem
aceito tais conceitos; assunto que, espero, tenha ficado claro nesse artigo.
Minha aflição e preocupação alheia é que faltam poucos anos
para que os jornalistas sem
diploma e sem registro desapareçam, já que centenas deles
“já se foram a la cria”. E quando
restarem somente esses com diploma e registro, a se ver pelo
que leio e escuto hoje – e que
descrevi acima – quantos desses saídos das atuais faculdades
de jornalismo poderão ser
postos ao lado dos sem diploma e registro do passado?
*Cesar Cabral – Ex-jornalista, ex-publicitário, ex-rosariense,
ex tantas coisas que imaginei que fosse Ex, o único título que jamais
perderemos. Ser ex – seja lá do que for
- é para sempre.