Caindo as máscaras, uma a uma!
Adeli Sell*
Estamos comemorando 25 anos de uma
Constituição Cidadã. Na época, assim como agora, o Brasil passava por um
processo político impressionante e sem precedentes na história do país. Hoje, a
efervescência das manifestações, atrelada aos movimentos de alguns partidos de
esquerda, merecem uma reflexão apurada.
Tapar os olhos e desdenhar as razões e
motivações seria intolerável para quem quiser viver um mundo melhor. Temos que
enfrentar todas as mazelas com a cara limpa, de cabeça erguida, de peito
aberto, lutando de pé, sem pedir nada de joelhos.
Cobrir os rostos, a exemplo do que temos visto
nas manifestações que sacudiram o Brasil e suas instituições? Apenas quando o
protesto tiver por objetivo ser irônico, como no teatro. Tapar a cara com um
bastão na mão para quebrar o Museu Júlio de Castilhos; com tinta spray para
pichar a nossa Catedral; com pedras para quebrar o Banco do Brasil? Isto não
pode ser tolerável.
De nada adianta também criar lei proibindo o
uso de máscaras em manifestações. É inconstitucional, pois o Estado não pode
legislar sobre liberdade individual. Além do mais, a própria Constituição
Federal garante o direito de livre manifestação, mas veda o anonimato. Ou seja,
cabe à força policial fazer cumprir a legislação atual.
Se desde as primeiras "jornadas" a
polícia tivesse centrado sua atenção nos vândalos, identificado um por um, não
teríamos chegado aos dias de hoje em que temos que apelar aos governantes para
que zelem pelo patrimônio público e privado do nosso Estado.
Andei pesquisando um pouco sobre a vida dos
que se escondem, lendo seus perfis no Facebook, blogs e quetais. Foi fácil ver
suas máscaras caindo uma a uma. A expulsão da moçada do PT do Bloco de Lutas
não me surpreendeu, pois só poderia dar nisto: estes mascarados não toleram a
diferença, não aceitam outras formas de luta que não a da pancadaria.
Fico triste em ver dirigentes do PSOL e do
PSTU - por puro oportunismo - adubando estas ocupações, com um brutal
desrespeito aos que vão ao trabalho ou à escola. Uma boa manifestação pode ser
feita de cara limpa, com palavras de ordem, sem bombas molotov na cara dos
policiais.
As saudáveis manifestações de junho, e dos
meses subsequentes, não precisam de tropa de choque. Agora, no momento em que a
polícia age cirurgicamente contra os líderes da truculência, surgem os gritos.
Quem viu, presenciou como eu presenciei atos aqui no Centro de Porto Alegre não
pode se calar.
Por isso, quero desafiar, sem xingamentos e
preconcepções, para um real debate sobre o lugar da democracia, do papel da
violência na História e da multiplicidade de lutas. Queremos e devemos buscar
lutar com todas as formas legais, pacíficas, de bom senso, sem vandalismo, para
conquistar um mundo melhor. Só assim poderemos saudar por muitos e muitos anos
a nossa Constituição cidadã.
*Escritor e consultor