segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Editorial

O PT reestatiza estradas
Editorial de O Estado de São Paulo

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), reestatizou oficialmente todos os polos de pedágio rodoviários que haviam sido concedidos à iniciativa privada em 1998. As estradas federais, que somam 983 km, voltarão à União e não terão cobrança de pedágio. Os 816 km restantes ficarão a cargo de uma estatal, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).
A medida de Tarso já seria, em si mesma, um contrassenso, pois se sabe há muito tempo que o Estado é incapaz de administrar estradas. Mas seu rompante, uma promessa de campanha, é ainda mais exótico quando se observa que o governo federal, presidido por sua correligionária Dilma Rousseff, vai no sentido totalmente oposto, empenhando-se em atrair investimento privado, ainda que aos trancos e barrancos, para melhorar a intransitável malha rodoviária federal.
O governador justificou sua decisão recorrendo ao surrado recurso de caracterizar os empresários como sanguessugas: "Aqui temos um exemplo dos problemas daquele sistema de pedágio. Milhões de reais circulavam nesta praça de pedágio e não havia sequer o compromisso de fazer acostamento".
As concessionárias, com razão, qualificaram esse tipo de raciocínio de "político e ideológico" - acusam o governo de descumprir contratos, ao interferir nos preços dos pedágios, e pretendem cobrar na Justiça um passivo que dizem chegar a R$ 3 bilhões. Para o presidente da Associação Gaúcha de Concessionárias de Rodovias, Egon Schunck Júnior, "no Rio Grande do Sul, ao contrário do resto do mundo, a opção é a estatização".
O motivo para a tendência mundial à privatização é simples: estradas administradas pela iniciativa privada são melhores. Números da última pesquisa anual da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) sobre a qualidade das rodovias provam isso. De acordo com o levantamento, 84,4% das estradas concedidas a empresas privadas estão em ótimo ou bom estado, enquanto apenas 26,7% das rodovias sob responsabilidade estatal se encontram nessas condições.
O governo petista do Rio Grande do Sul, porém, acredita que terá condições de administrar melhor as rodovias do Estado e de realizar os investimentos necessários. Para isso, criou uma estatal, a EGR, que cobrará pedágio mais barato e ainda fará melhorias.
Os números disponíveis, porém, mostram que esse objetivo não será facilmente atingido. Enquanto as concessionárias investiram nas estradas 55% do que arrecadaram, a EGR conseguiu alocar apenas 34,8%, segundo o jornal Zero Hora. A meta, diz o governo gaúcho, é chegar a 80%, mas a experiência no plano federal indica que, nesse caso, é grande a distância entre desejo e realidade.
O levantamento da CNT mostra que o investimento público federal em rodovias no ano passado, até 8 de outubro, foi de R$ 4,2 bilhões - apenas 33,2% do total autorizado. Na remota hipótese de que todo o investimento permitido tivesse sido executado, ainda assim teria sido insuficiente. Para os especialistas da CNT, seria preciso um aporte da ordem de R$ 355,2 bilhões para todas as obras necessárias na malha rodoviária, como a duplicação de 30 mil km e a construção de outros 18 mil km. O custo da melhoria das estradas e de sua administração é, portanto, insuportável para qualquer Estado - ainda mais para um Estado gigantesco e perdulário.
No caso das rodovias estaduais gaúchas, já se sabe que o fim da cobrança de pedágio resultará na suspensão de serviços de ambulância e guincho. Já as rodovias federais dependerão de recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, cuja situação é de penúria.
No palanque, porém, tudo fica muito mais fácil. Com fanfarra e discursos inflamados, Tarso foi a uma das praças de pedágio, em Carazinho, para simbolicamente retomá-la, recorrendo à demagogia das cancelas levantadas. "Pode passar que é de graça!", gritou o governador para um motorista de caminhão que buzinou ao atravessar o posto. No entanto, passada a festa populista, os gaúchos sabem que esse "de graça" vai acabar saindo muito caro.

Crônica

O Ano Novo cochila e espera desde sempre **
Cesar Cabral*
Foto: Globo
Como se sabe, o ano no Brasil não tem data certa pra terminar; é entre os dias 20 e 25 de dezembro. E pra começar, geralmente é depois do carnaval. Mas como ele não tem dia fixo, pois acontece 47 dias antes da Páscoa, que também não tem dia fixo, calculei e descobri que
2014 vai começar depois do dia 4 de março, terça feira de Carnaval.
Eu não entro em férias. Entro em recesso acompanhando os judiciários e os legislativos municipais, estaduais e federal, quando nada funciona. Nem a turma que fica de plantão.
Durante o meu recesso, quando vou à praia me sinto um Barbosão em Miami e nesse período não escrevo sobre coisas pesadas, pois os leitores, de férias ou de recesso, devem estar dando picas pro Brasil. Certíssimo! Por isso, quando escrevo, vez ou outra, só trato de coisas leves.
O isopor, por exemplo, é um maravilhoso material leve. Um pouco poroso, é verdade, mas isso não lhe acrescenta mais peso. Serve pra muitas coisas sobre tudo nas escolas
de primeiro e segundo graus. Professores e alunos fazem coisas fantásticas com o isopor; estrelinhas, aviõezinhos, casinhas e o que mais a criatividade permitir.
“O poliestireno é um homopolímero resultante da polimerização do monômero de estireno. Trata-se de uma resina do grupo dos termoplásticos, cuja característica reside na sua fácil flexibilidade ou moldabilidade sob a ação do calor, que a deixa em forma líquida ou pastosa. É a matéria-prima dos copos descartáveis, de lacres de barris de chope de várias outras peças de uso doméstico, além de embalagens”. Não é maravilhosos saber isso tudo? Já pensou morrer sem saber isso tudo? Pra mim foi um alívio, pois tirou um peso da minha ignorância; sinto-me leve como um isopor. E me encantei ao ficar sabendo, com essa explicação, que nossa língua portuguesa tem uma palavra tão simpática: “moldabilidade”. Foi um professor que me ensinou isso enquanto pregava avisos num quadro, de isopor é claro.
O isopor é muito usado na construção civil. Principalmente como isolante de som em forros de
boates onde uma faísca pode causar um incêndio pavoroso e matar centenas de pessoas. Assim como ele pode causar uma tragédia, no formato de caixa térmica é capaz de fazer com que a pizza quente chegue a nossa casa totalmente fria. Fácil de quebrar, dada a sua frágil resistência, descobri que o isopor, além daquela maneira extremamente simples de entender dada pelo meu amigo professor, lembram, é feito de pequenas bolinhas; umas grudadas nas outras provando que a união nem sempre faz a força. É por isso que o povo só unido não basta, acaba sempre sendo vencido!
E que uma só bolinha de isopor, desacompanhada, é mais ou menos como eu: não te serventia. Com mais duas eu poderia bradar: uma por todas e todas por uma. Porém
com mais e mais bolinhas de isopor eu me transformaria numa baita caixa com gelo e dezenas de latinhas de cerveja. Como aquela que o Lula carregava sobre a cabeça, de férias na praia particular da Marinha do Brasil em Aratu, na Bahia. Quem se lembra disso?
A Dilma também tá lá, molhando seus pés presidenciais no mar da Bahia e pegando leve com aquele trio do gabinete. Dizem que ela dá tanta porrada na mesa que as vezes passa dias com a mão lambuzada de gelol e um outro unguento já que não basta ser gelol tem que ser remédio. Que remédio, né?
Falando nisso, o Lula em seu terceiro mandato – o presidente da presidente – tá mais leve que isopor. Não fisicamente é claro. Agora que a turma que inventou o Lula lá sentado na cadeira de FHC e depois o “mensalão”, uma patifaria que ele jura nunca ter existido, ele só cuida
do quarto mandato. Mas, até agora, só uma pequena parte da quadrilha foi pra cadeia. O restante, a turma da mão leve como isopor, essa tá ativa. Um deles só pode comer omelete de clara de ovo uma gororoba que deve ter gosto de isopor.
O diabo, na campanha para o terceiro mandato, é que o LULLLA tem que carregar a Dilma que, pesadona, já deve passar dos cem quilos. (foto). Fosse a Marina, aquele galhinho seco da floresta, seria mais fácil, mais leve. Tão leve quanto é o algodão. Ou a Gisele Bündchen doce, colorida e leve como uma porção de algodão doce do carrinho do seu Zezinho. Mas o algodão, e a pluma da paineira flutuando no ar, servem de assunto para outra crônica leve durante esse recesso sem dia e hora pra terminar.
*Jornalista e escritor
** Título de Carlos Drummond de Andrade

Comentário

O PDT e o seu principal prefeito
André Machado*
Curiosa a convicção do ex-presidente da Câmara Municipal, Thiago Duarte (PDT), em relação à CPI da Saúde. Conforme matéria do jornalista Guilherme Darros publicada na última sexta-feira pelo Jornal do Comércio, Dr. Thiago apenas não assinaria o pedido se o prefeito José Fortunati afastasse o atual secretário Municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli. O secretário é filiado ao PTB. Thiago e Fortunati são colegas de partido e o vereador nunca escondeu o seu desejo de ocupar o cargo, só que a ideia não passa pela cabeça do prefeito. Casartelli é homem de confiança do prefeito e só sai se quiser.
Mas que convicção é esta que muda de acordo com o vento? Se acredita que tenha o que ser investigado que assine o pedido de CPI. Hoje o JC volta ao assunto e mostra as dificuldades que o prefeito tem na base aliada na Câmara. Só que a maior parte dos problemas vêm do próprio partido do prefeito.
Dr Thiago teve uma vitória partidária sobre o prefeito ao conseguir que as dez zonais do PDT assinassem uma carta – referendada pelo presidente Municipal Vieira da Cunha – solicitando a saída de Casartelli. É só um episódio a mais na lista de problemas que a sigla cria ao seu mais importante prefeito no Rio Grande do Sul. O PDT nunca percebeu a possibilidade de reerguer-se a partir da gestão de Porto Alegre. O natural seria que a candidatura de Vieira da Cunha ao Piratini defendesse a gestão Fortunati. É rara uma declaração de um deputado do partido a favor do prefeito.
Os problemas de Fortunati com o PDT na Câmara Municipal começaram ainda no mandato anterior com as brigas na tribuna entre a atual deputada Juliana Brizola e o vereador Mauro Zacher, hoje secretário de Obras e Viação. O ano de 2013 foi talvez o mais difícil da vida de Fortunati como político. A gestão enfrentou vários problemas, as obras na cidade não andaram e muito do prometido na campanha eleitoral para a Copa de 2014 sequer sairá do papel. Qual partido foi solidário ao prefeito? Aos amigos mais próximos ele nomina: o PSB (que apoiou Manuela).
*Jornalista