O
Rio Grande que morre e a hora de revisitar Clarissa
André
Machado*
Lendo
a coluna Informe Econômico da Zero Hora de ontem (27/02), uma declaração me pôs
a pensar sobre o futuro do Rio Grande do Sul. A nota que leva o título “Rio
Grande morrendo?”, por si, já seria intrigante. Mas o que me soou como um soco
no estômago foi a declaração do badalado economista Igor Morais, escolhido
economista do ano pelo conselho profissional do setor.
Como acontece em muitos casos, fiquei com mais perguntas que
respostas na cabeça.
“Estamos morrendo de uma forma devagar, as pessoas sofrem, mas
têm medo de falar. Torço para que ocorra algo grave e, assim, a gente consiga
se mexer”, é que diz Morais.
No começo, fiquei incomodado. Meio ofendido. Não sou diferente
dos outros gaúchos, que batem no peito para comemorar as próprias façanhas. Mas
a declaração de Morais sugere uma imobilidade cultural que, também como todo
gaúcho, sei que existe de verdade. E já não é nova.
Nossos índices de desenvolvimento há tempos não são os mesmos.
Perdemos lugar na fila dos melhores lugares para investir, há fábricas
fechando, empregos indo embora. E parece que aqui os negócios são mais
amarrados que no resto do Brasil. Nossa dívida pública se torna impagável,
apanhamos na guerra fiscal e nossas cidades estão cada vez mais violentas.
De onde vem essa imobilidade, essa lerdeza ante uma espécie de
precipício que parece se aproximar?
Talvez eu esteja errado. Eu e Morais. Talvez sejamos dois
pessimistas. E se for assim, se o Rio Grande estiver mesmo definhando, quando
foi, na história, que erramos o passo?
Onde foi parar aquele Rio Grande epopeico de O Tempo e o vento?
O mesmo Erico Verissimo que se consagrou como referência no romance histórico
ambientado no campo respondeu esta questão no lado B da sua obra. A sua fase
urbana e moderna. Não com as vírgulas frias dos economistas. Subjetivamente,
claro. Mas respondeu.
Vou recorrer à releitura da saga de Clarissa, trilogia símbolo
desse Erico narrador dos conflitos urbanos. Tenho a impressão de já ter passado
por boas respostas lá. Ou, pelo menos, perguntas muito interessantes sobre uma
época em que a fortuna gaúcha trocou de mão.
Depois que eu revisitar Clarissa, comento por aqui e a gente
pode chegar a algumas respostas.
Aproveite o dia.
*Jornalista