Jornalista imagina o
futebol e a Fifa em 100 anos (II)
Em maio de 2004, quando a Fifa chegou ao seu
centenário, a revista Fifa Magazine publicou um texto do jornalista suíço
Martin Born tentando responder – com criatividade e bom humor – algumas
perguntas em relação ao futuro: como será o futebol nos 100 anos
seguintes? Qual vai ser a melhor seleção do mundo? E o craque? Quais serão as
mudanças tecnológicas? O que vai acontecer na Copa de 2104? O título é “Os
próximos 100 anos da Fifa – A Revolução do Kaiser”.
O campeão mundial
China
Josef Franz
Kaiser – nome que figurava no registro civil – nasceu em 2024. Devia a sua
existência à lucidez do seu pai, que havia renunciado ao seu cargo de
presidente da Fifa um ano antes de seu nascimento. Essa renúncia foi
voluntária, conforme disse, para dedicar-se a outras atividades. “Um quarto de
século é suficiente”, costumava dizer. Teve que retirar-se por pressão dos
poderosos chineses, assim insinuaram alguns incorrigíveis jornalistas ingleses
que já no passado haviam tentado desacreditá-lo. Conforme se comentava, após o
seu segundo título mundial os chineses insistiam obstinadamente em que 100
milhões de futebolistas em seu país tinham o direito de que o presidente fosse
um chinês. Além de tudo, já tinham mesmo a maioria no G-55.
O presidente
demissionário admirava o futebol chinês, fortemente influído pelo mundo do
circo, com todas as suas ações acrobáticas e combinações desequilibrantes nas
quais a bola nunca tocava o chão. Também faziam pirâmides humanas erigidas
vertiginosamente a título de barreira em situações de tiro livre, e séries de
saltos mortais, etc. Contudo, temia o iminente desaparecimento dos valores
tradicionais, e o desmoronamento das regras do jogo, temores que rapidamente se
confirmariam no futuro.
Como
presidente, havia se pronunciado contra todo tipo de manipulações. Lutava na
primeira fila contra a dopagem – que no futebol não aporta nenhuma vantagem – e
se opunha veementemente a que nos laboratórios clandestinos da selva
sul-americana se clonasse os futebolistas mais renomados do mundo, desde Pelé,
Zinedine Zidane até Tsin Too, o máximo goleador do último Mundial disputado no
Qatar.
Quando estava
no piso 83 da Torre Prata com vista ao lago, o kaiser Josef Franz pensava
seguidamente nesta exceção que o seu pai se havia permitido para o bem de toda
a humanidade. Como carismático futebolista tinha contribuído com fervor para
que – nos anos 40 – a Europa se recuperasse do seu insignificante papel no
futebol mundial, abrindo caminho entre o domínio afro-asiático. Desse modo, não
carecia de lógica que ao término de sua carreira desportiva tivesse passado de
imediato a ocupar o cargo de presidente da Fifa.
Próximo capítulo:
World Soccer Channel
Texto: Claudio Dienstmann
Texto: Claudio Dienstmann