segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Opinião

Um mandato inédito


Elio Gaspari*

Os eleitores deram ao PT um mandato inédito na história nacional. Um mesmo partido ficará no poder nacional por 16 anos sucessivos. A doutora Dilma reelegeu-se num cenário de dificuldades econômicas e políticas igualmente inéditas. Lula recebeu de Fernando Henrique Cardoso um país onde se restabelecera o valor da moeda. Ela recebe dela mesma uma economia travada. Tendo percebido o tamanho da encrenca, em setembro anunciou a substituição do ministro Guido Mantega. Por quem, não disse. Para quê, muito menos. A dificuldade política será maior. As petrorroubalheiras devolveram o PT ao pesadelo do mensalão. Em 2005, o comissariado se blindou e, desde então, fabrica teorias mistificadoras, como a do caixa dois, ou propostas diversionistas como a da necessidade de uma reforma política. Pode-se precisar de todas as reformas do mundo, mas o que resolve mesmo é a remessa dos ladrões para a cadeia.

O Supremo Tribunal Federal deu esse passo, formando a bancada da Papuda. Foi a presença de Marcos Valério na prisão que levou o ‘‘amigo Paulinho’’ a preferir a colaboração à omertà mafiosa.
Dilma teve uma atitude dissonante em relação às condenações do mensalão. Protegeu-se sob o manto do respeito constitucional às decisões do Judiciário. No debate da TV Globo, quando Aécio Neves perguntou-lhe se achou ‘‘adequada’’ a pena imposta ao comissário José Dirceu, tergiversou. Poderia ter seguido na mesma linha: decisão da Justiça não deve ser discutida. Emitiu um péssimo sinal para quem sabe que as petrorroubalheiras tomarão conta da agenda política por muito tempo.
Será muito difícil, e sobretudo arriscado, tentar jogar o que vem por aí para baixo do tapete. Ou a doutora parte para a faxina, cortando na carne, ou seu governo vai se transformar num amestrador de pulgas, de crise em crise, de vazamento em vazamento, até desembocar nas inevitáveis condenações.

O comissariado acreditou na mágica e tolerou o contubérnio do PT com o PP paranaense do deputado José Janene. A proteção dada aos mensaleiros amparou o doutor e ele patrocinou a indicação do ‘‘amigo Paulinho’’ para uma diretoria da Petrobras. Ligando-se ao operador Alberto Youssef, herdeiro dos contatos de Janene depois que ele morreu, juntaram-se aos petropetistas e a grandes empresas. O resultado está aí.

Em 2002, depois do debate da TV Globo, Lula foi para um restaurante do Rio e comemorou seu desempenho tomando de uma garrafa de vinho Romanée Conti que custava R$ 9.600. A conta ficou para Duda Mendonça, o marqueteiro da ocasião. Quem achou a cena esquisita pareceu um elitista que não queria dar a um ex-metalúrgico emergente o direito de tomar vinho caro. Duda confessou que fazia suas mágicas com o ervanário do mensalão. Passaram-se 12 anos e os repórteres Cleo Guimarães e Marco Grillo mostraram que, na semana passada, Lula esteve no município de São Gonçalo, onde disse que ‘‘a elite brasileira não queria que pobre estudasse’’.
Seguiu da Baixada Fluminense para a Avenida Atlântica e hospedou-se no Copacabana Palace, subindo para a suíte 601, de 300 metros quadrados, com direito a mordomo. Outros sete apartamentos do hotel estavam reservados para sua comitiva.

*Publicado no jornal O Globo (27/10/14)

Dilamar Machado

Uma saudade que não acaba!

Meu irmão, Dilamar Machado, estaria completando 79 anos neste dia 27 de outubro. Certamente faríamos uma grande festa e comemoraríamos com um belo e saboroso churrasco acompanhado de cervejas bem geladas.
Mas ele resolveu partir antes. Foi para um lugar onde, certamente, segue fazendo aquilo que sempre fez: o bem!
Deixou aqui a Lea, seu grande amor, o Alceu, o Alvinho, o André e o Anderson, seus filhos, além das noras e netos. Deixou também, um imenso vazio entre todos nós.
O Dilamar foi meu ídolo, meu exemplo, minha inspiração, meu parceiro, meu amigo e meu irmão. Era o quarto, dos oito irmãos que o Capitão Machado e Dona Célia botaram no mundo. Dos oito, com a morte, na semana passada, do Dilair, somos apenas dois, agora.
Radialista como pouquíssimos, o Dilamar fez de sua profissão, um caminho para fazer o bem. Passou pela vida deixando um rastro de bondade, de amor ao próximo, de honestidade e seriedade. Como político, foi tão sério que morreu pobre. Isso, num país em que ocupar cargo público é caminho para enriquecimento,  faz do Dilamar um exemplo quase raro.

Hoje, quando estiver na missa de sétimo dia em memória de outro querido irmão, o Dila, vou rezar por eles, pela Dilma, pelo Dilmair, pela Diulma e pela Celinha. Todos já partiram para um outro plano, mas deixaram aqui uma saudade que não acaba.

Bom Dia!

Um texto brilhante!
Enquanto pensava no que escrever sobre a eleição de ontem, quando metade do Brasil provou que está satisfeito com um crescimento de menos de 1%, com uma inflação que sobe todos os dias, com uma educação das piores do mundo, com um serviço de saúde péssimo, com uma insegurança quase total, c om o maior desemprego na indústria, que já não sabe como sair de uma crise tão profunda, repito, enquanto pensava no que escrever, dei uma passada no facebook e encontrei este texto maravilhoso do Rick Jardim. Posso até estar cometendo uma indelicadeza por não pedir permissão, mas corro o risco. Ele é meu amigo e sabe que todas as palavras do seu texto, refletem exatamente o pensamento que eu gostaria de colocar aqui e não conseguiria faze-lo com o mesmo brilho. Por favor, não deixe de ler.