Um nova crônica marca o retorno do jornalista e escritor Cesar Cabral. São seis partes que começo a publicar a partir de hoje. Não perca!
Um pouco do mesmo.
Apenas bem diferente!
Cesar Cabral*
Voto a mais de meio século, e já protestei, já
concordei, já fui presidente mesário com urna de lona e a primeira eleição que cobri
foi no tempo que os votos eram contados no armazém nº 1 do cais do porto em Porto
Alegre. “O que vai pelo pleito! Ou a marcha do pleito!”, não lembro. Lembro bem,
porém, que era o Amir Dominguez que anunciava pela Rádio Guaíba, comandando a
“jornada eleitoral”.
E também não me esqueço de que andávamos de Kombi e quem
dirigia era o Doutor Paulo Millano. Assim percorríamos as sessões
eleitorais de uma ou mais zonas eleitorais. Eu pedia ao presidente da mesa o número
de votantes e se tinha alguém que interessasse destacar; alguém famoso, por
exemplo.
Depois perguntava onde havia um telefone; em geral ele estava na secretaria
da escola, eternos locais de votação. Ligava para a Guaíba e o Krebs dizia: fica na
linha! E pelo retorno eu ouvia quem estava no ar até chegar a minha vez. E o Amir
dizia: e agora de uma de nossas unidades móveis vamos chamar o repórter Cesar
Cabral em algum
ponto da cidade. Eu dizia: estamos (era sempre no plural)
na zona tal e etc e tal, quantos eleitores, quantos já haviam votado – numa delas
tinha sido a nossa Miss, Ieda Maria Vargas. Falei pelos cotovelos até o Amir me
cortar (eu não parava de falar abobrinhas sobre a miss). “Muito bem, Cesar já
temos outros repórter na linha...”. Mas eu tinha que encerrar a “intervenção” como
se dizia, com o “bordão” padrão. “Essa foi mais uma informação sobre a
marcha do pleito;
patrocínio Panambra, revendedor autorizado Wolkswagem.”
Há quem não acredite. Impossível continuar indiferente em 2014.
Depois o Janio Quadros renunciou o Leonel Brizola criou a
Rede da Legalidade, o avô do Aécio Neves inventou um plebiscito parlamentarismo ou presidencialismo? – o Jango assumiu a presidência da
República, foi derrubado pelos generais do Exercito e eu ainda aguentei alguns
meses na Caldas Junior – Correio do Povo e Rádio Guaíba – e fui demitido; diziam
que eu era “vermelho”.
Mas isso já é outra história.
* Jornalista e escritor