Um pouco do mesmo. Apenas bem diferente! (2)
Cesar Cabral*
Pois como não dá pra ficar de fora do “processo
eleitoral” dei uma olha nas
campanhas; principalmente nas das TVs. Diverti-me muito,
com as tais de propostas e as promessas embora a campanha pra prefeito e
vereador seja mais divertida. Todos seguiram a PPC, a regra número dos
marqueteiros: propor,prometer, criticar. Lamento ter que esperar 2 anos para
ter tanta diversão a começar quando vejo e ouço: programa eleitoral
“obrigatório gratuito”.
Um candidato a governador “prometeu” acabar com o
“problema da segurança”
iluminando as ruas das áreas mais perigosas da periferia
da cidade. Acho que o
infeliz não sabe (ou se faz de besta?) que segurança não
é problema; é como
dinheiro; problema é quando falta. Além disso, iluminação
pública e tarefa de
prefeito.
O adversário desse promete acabar com todas as casas de
taipa; vai construir de tijolos com reboco e tudo o mais. O sertanejo quer é
“água de beber” – se cavar um poço sai água salobra, no sertão é assim – e quer
continuar com sua casa de taipa porque dentro dela não é quente, é fresquinha, e a
noite “É até friinha”. É verdade.
A Marina, que me lembra um pé de pau seco, continua se
“achando” e com um
milhão de votos a mais na bolsa somado aos 20 milhões que
já tinha, tornou-se
doceira. E fazendo doce, só por alguns dias, tornou-se
chantagista. Não aceita
diminuir a menor idade penal alegando que não temos
locais adequados para
“apenamento”. Que bobagem é essa? E também não quer
reeleição. A Marina é
lulanática, ainda sofre as sequelas dos tempos do lulismo
petista que ela ajudou afundar e manter.
De tanto ouvir falar fui dar uma espiada nos tais
debates. Que coisa esquisita! É
um minuto pra um, outro minuto pra outro; uma coisa
parecida com sei lá o que.
Menos com debate. Mesmo com tempo de pergunta e resposta
“combinado
anteriormente com os assessores dos candidatos” (O que é
que eles
“combinaram”?) a coisa mais parece bate boca de
maloqueiro; xingamento na
hora do recreio de grupo escolar. Uma coisa que me
lembrou dos botecos da Rua Cabo Rocha ou aquele trecho da “Volunta”. Quem se lembra
delas?
Alguém me disse que os debates parecem um cabaré.
Negativo! respondi impávido como um colosso daqueles tempos. Respeite o cabaré!
Continuei meu discurso - pra não sair do tom reinante -. Num cabaré exige-se
respeito e compostura. Neles as propostas são claras: como se faz, com quem e o que se
faz, quanto custa e quem e como se paga; a vista. Neles ninguém passa a mão no
traseiro da dama do outro; ninguém fica devendo nada a ninguém e a liberdade de
escolha existe de fato e de direito, sobretudo. Ninguém patrulha ninguém e não há a
preocupação de ter que ser politicamente correto, pois lá, todos são. E quem
quiser baila. E enquanto a orquestra toca a típica descansa (pra quem não sabe: é um
conjunto com piano, contra baixo, um violino e o majestoso bandoneon a tocar
tangos, milongas, chamamés e polcas).
E veio o segundo turno e a Dilma foi reeleita, conforme se
podia prever por razões simples e caminhos e acordos complexos que só a política
pode engendrar além da nossa vã filosofia e capacidade de aceitação. E foi o que
se viu na campanha; dizem que foi a mais agressiva a mais isso e aquilo como “nunca
antes nesse país” (tomo o termo como uma referência cultural, o que há de se
fazer?).
Além disso, os tais jornalões e televisões resolveram que
“histórico” (a) é sinônimo de grande, maravilhoso, horroroso, incrível, espetacular
e outros adjetivos. Dizem que esta eleição foi histórica; um fato ou evento que só
existe no futuro, coisa do passado que se conhece e a qual nos referimos somente no
presente. Desconfio que isso seja um modismo passageiro e que deve desembarcar já
na próxima estação, bem antes do fim da linha, levando junto o “fazer selfi”.
Gosto do Brasil, de suas particularidades e de algumas
peculiaridades;
especialmente do nosso português brasilino. Gosto de
tantas coisas porque nasci aqui; poderia ter nascido na ilha de Tonga ou no Zaire e
hoje estaria com Ebola falando francês. Tudo ao acaso.
Não gosto dessa nossa inferioridade canina, dessa nossa
ingenuidade
subdesenvolvida, desse gingado enganador, desse nosso
pobrismo intelectual. E, principalmente, tenho o mais profundo desprezo reverente
e ilimitada
desconsideração por quem conduz nossa nação e também por
políticos em geral, todos eles, e por burocratas com pose de dona de cabaré.
Sinto misericordiosa compaixão, como se eu fosse cristão, pela maioria de um
povo iludido pela minoria amoral eleita democraticamente por eles. Um mistério
doloroso. Ou um paradoxo democrático?
Não aceito – mas o que eu posso fazer? – esse nosso
sistema eleitoral onde 50% mais 1 ganha sob a insatisfação da outra metade que passa
a ser tratada como minoria. Quem sabe um mínimo de como funciona os
cocientes eleitorais, hão de concordar comigo. Quem será o Tiririca da próxima
eleição? Ele mesmo, de novo.
Creio que 99% dos eleitores não sabem o que representa
seu voto e nem o que
resultará dele numa urna que não se pode recontar votos e
nem passa recibo ao
eleitor.
Não gosto da urna eletrônica que pode ser manipulada, com
o já foi nos Estados
Unidos depois de um estudo feito em 2006 pela
Universidade de Princeton
comprovando que ela não é segura. O fabricante, banido do
país, a Diebold é o
mesmo fornecedor das nossas urnas; marca Diebold. E
denúncias e provas contra as urnas eletrônicas existem e chegam ao TSE. Porém quem
ousar desconfiar do TSE ou da urna eletrônica será condenado por litigância
de ma fé, quem disse isso foi, o ministro Ricardo Lewandovsky dia 08/04/2010 no
plenário do TSE no julgamento do pedido de pericia para esclarecer a
suspeita de fraude nas eleições de 2006 em Alagoas. Nesta eleição, de 2014, o advogado do
PT e de José Dirceu, o José Tofóli, agora presidente daquela suprema corte
eleitoral garante a lisura do pleito e que a urna eletrônica e confiável e inalterável.
Uma coisa é ser difícil de alterar, outra é ser inalterável. Além do mais o jovem
ministro presidente não permite que um concorrente proteste, duvide, peça revisão
ou recontagem de votos porque essas urnas são inquestionáveis; e quem o fizer
será multado. Ora, esse rapaz está dizendo antecipadamente que não haverá um
crime e quem fizer a denúncia esta cometendo um delito.
Não sou advogado, por óbvio, tanto quanto não sou idiota;
ele é. E está violando o Direito e a lógica elementar; isto é: da natureza do
Direito, de seu fundamento, de seu princípio. Como ele pode garantir que não haverá
crime? Como ele pode condenar, então, o criminoso? Por que antecipar o Horário
de Verão em uma semana, coincidindo com o período eleitoral? Por que
divulgar a apuração dos votos apenas quando chegar a 90% do resultado? Fuso
horário? E daí? Por que não iniciar a apuração dos votos e divulgar os resultados
após o encerramento da votação as 17 horas do local onde está a urna? Qual é o
problema se o resultado final for proclamado as 22 horas, a meia-noite ou às duas
horas da madrugada?
Qual é o problema?
O jornalista Carlos Newton escreve na Tribuna da Imprensa
(que já foi impressa e de propriedade do Carlos Lacerda) “Em reveladora e
estarrecedora entrevista à Beatriz Bulla, do Estadão, o corregedor-geral da Justiça
Eleitoral, ministro João Otávio de Noronha, confirmou que somente um pequeno grupo de
técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) assistiu o minuto a minuto
da totalização dos votos.
De acordo com o corregedor-geral, foi por ordem direta de
Toffoli que o TSE
montou um esquema para manter isolados os técnicos
responsáveis pela apuração, sem contato inclusive com outros membros da Corte.
E o mais inacreditável é que, ainda segundo o corregedor-geral
João Otávio de
Noronha, a orientação dada pelo presidente do TSE,
ministro Dias Toffoli, era
para que os técnicos não informassem nem a ele o
resultado parcial da eleição
antes da abertura dos dados para todo o País.
Como todos sabem, essa abertura dos dados somente ocorreu
já depois das 20
horas, quando estava assegurada a “eleição” da candidata
oficial Dilma Rousseff.
Esses são os fatos – verdadeiros, indiscutíveis e irrefutáveis – que marcaram as
estranhíssimas inovações desta eleição presidencial, em
que não houve
transparência nem fiscalização. As declarações do corregedor-geral
João Otávio de Noronha são inaceitáveis e assustadoras, porque jamais
ocorrera no país uma eleição em que até mesmo as maiores autoridades da
Justiça Eleitoral foram proibidas de acompanhar a apuração.” (SEGUE)
*Jornalista e escritor