quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Opinião

O jornalista David Coimbra,  em sua  cronica diária na ZH, fala de maneira clara sobre o que classifica de o fim do PT. Publico para que quem não teve a oportunidade de ler mo jornal, não perca.

O PT acabou

David Coimbra*

A estratégia do PT para se defender das denúncias de corrupção que apodreceram o partido pode criar precedente jurídico. Os petistas não negam que tenha havido roubo nos governos Dilma e Lula. Não. Eles se contentam em provar que houve roubo também no governo Fernando Henrique. Já estou vendo os advogados do país se valendo da jurisprudência:

— É verdade, meritíssimo, o meu cliente é traficante de drogas. Mas o Elias Maluco também é!

— Sim, senhores do júri, o meu cliente matou, mas 92% dos assassinatos no Brasil não são resolvidos. Por que querem resolver justamente este? A quem interessa condenar o meu cliente?

Compreensível o esforço dos petistas. O PT surgiu como uma bela ideia de que seria possível fazer política ética. Lembro de uma entrevista do Cazuza para o Jô Soares no final dos anos 80, em que ele falava com simpatia da "pureza" dos petistas, que não aceitavam negociatas. Tal era o espírito do PT, ao ser fundado num fevereiro como este, 35 anos atrás. Era essa pureza.

O PT ganhou o poder e perdeu a pureza. "De que adianta ganhar o mundo inteiro, se você perder a própria alma?", escreveu Marcos, citando Jesus. O PT perdeu a própria alma. Seria melhor não ter conquistado a Presidência, melhor não ganhar o mundo inteiro. Ainda teríamos a ilusão da ideia fundadora do PT: de que fazer política decente é possível.

Quando o PT se apresenta como um novo Adhemar de Barros, um rouba mas faz do século 21, quando o PT se apresenta como um Robin Hood caboclo, que tira dos ricos para dar aos pobres, quando o PT se justifica argumentando que rouba porque todos roubam, só torna tudo mais triste e sombrio. Porque parece não ser possível.

Antes os petistas dignos reconhecessem que as coisas deram errado, que não saíram como eles queriam, e tentassem de novo, de outra forma, não mais pelo PT. Porque o PT acabou. O PT tomou o rumo de outras legendas históricas do Brasil. O velho PCB de Prestes se liquefez com as contradições da União Soviética, o PTB de Brizola hoje é um balcão de fisiologismos, o MDB de Simon virou uma geleia disforme, o PDS se orgulhava de ser "o maior partido do Ocidente", mas era sucedâneo da Arena e hoje não existe mais nem como sigla, o PSDB surgiu como um seguidor da moderna social-democracia européia e se mostrou um servidor da plutocracia paulista, e o PFL... Bem, o PFL sempre foi o PFL.

Hoje, o Brasil não precisa da ladainha supostamente ideológica dos defensores do governo. Ninguém mais acredita nessa conversa de que há uma luta entre os representantes das elites versus os representantes dos pobres. Todos sabemos que só há uma luta, no Brasil: a luta pelo poder.

Hoje, o Brasil não precisa de um bom governo, não precisa nem de um governo competente. Só precisa de um governo honesto. Porque o brasileiro não é um povo de corruptos, como querem fazer crer os interessados na relativização da roubalheira. Corrupto é o governo do PT. Corruptos foram governos passados. Porém, há petistas honestos. Há muita gente dos outros governos que é honesta. A maioria das pessoas que conheço é honesta. O povo brasileiro é tão honesto quanto qualquer povo do mundo.

O PT errou. Muitos outros erraram. Mas a indignação do brasileiro com esses erros já basta para mostrar que isso se tornou intolerável. Que nós iremos em frente. Que é possível. Sim, é possível.

*Publicado na ZH de hoje, dia 11/02/15

Reação ao PT

Ministro estuda novos cortes


Diante da rebelião do PT e das centrais sindicais contra as medidas de ajuste fiscal, a equipe econômica do governo planeja tomar medidas adicionais para garantir a economia prometida no fim do ano passado. Técnicos do governo afirmam que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e sua equipe vão tentar cumprir a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de 1,2% do Produto Interno Bruto em 2015, mesmo que seja preciso cortar mais gastos, incluindo investimentos, rever algumas desonerações ou aumentar novos tributos.

A equipe econômica já sabe que será dura a batalha no Congresso para aprovar as medidas anunciadas pelo governo:
— O ministro tem um mandato da presidente Dilma para fazer um primário de 1,2% do PIB. É isso que ele vai perseguir — disse um dos técnicos.

A própria Executiva Nacional do PT cobrou, em documento elaborado após reunião da semana passada, que a presidente Dilma Rousseff cumpra sua promessa de campanha de impedir que o ajuste fiscal prejudique os direitos trabalhistas. No documento, o PT também afirma que o governo deve dar “continuidade” ao diálogo com o movimento sindical.

O Ministério da Fazenda acompanha de perto o fogo amigo. Segundo fontes do governo, por enquanto a área econômica tem ficado fora do debate e deixado que o núcleo político do governo trate do assunto. No entanto, a Fazenda já está preparada para entrar em ação quando as propostas que garantem o ajuste — como as mudanças nas regras do seguro-desemprego e de pensão por morte — começarem a ser votadas pelos parlamentares.

Pacote de ajuste fiscal

Governo será obrigado a recuar

Cunha recebe Centrais Sindicais
O governo terá de afrouxar o pacote de ajuste fiscal que enviou ao Congresso se não quiser sofrer uma nova derrota parlamentar, bem mais representativa do que a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara.Uma das primeiras mudanças aceitas pelo Planalto é a permissão para que os trabalhadores permaneçam 12 meses no mesmo emprego — e não 18, como está na proposta original — para ter direito ao seguro-desemprego. Seria uma maneira de garantir a manutenção do empregado no cargo ao longo de 2015, ano que, segundo o Executivo, será o mais árduo da crise econômica.

O pacote fiscal que altera regras trabalhistas e previdenciárias tem sido bombardeado pela base de apoio ao governo no Congresso e pelas centrais sindicais. “Não tem como o pacote das medidas provisórias sair como entrou aqui”, confirmou o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC).

Já foram apresentadas mais de 600 emendas às propostas originais. Autor de algumas dessas sugestões de mudanças, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o governo está cometendo suicídio. “Teremos um ano político difícil, com a oposição pedindo o nosso impeachment. Tudo o que não precisamos é atirar em nossa base de apoio, naqueles que vão às ruas nos defender”, criticou Lindbergh, em uma referência aos movimentos sociais e às centrais sindicais.


Bom Dia!

No tempo das bandeiras

Quem tem, por exemplo, cinquenta anos, quando o PT foi fundado, em fevereiro de 1980, tinha 15. E quando se tem 15 anos normalmente se acredita em tudo, contesta tudo, sabe tudo. Os velhos, aqueles que tem mais de 30, não sabem nada, são reacionários, não admitem o modernismo do pensamento, não entendem o que é ser comunista.

Eu também já fui assim. Não sei se exatamente nestes termos, pois aprendi, bem cedo, com meu pai, que era preciso enfrentar a vida com todas as suas dificuldades. Mas admito que tive idéias revolucionárias.

Poucos anos depois da fundação do partido, Lula incutiu na cabeça dos petistas que o PT era um “partido diferenciado dos demais”. No PT não havia espaço para os políticos tradicionais, para a corrupção, para os conchavos e negociatas tão tradicionais nos demais.

E muita gente acreditou. Porto Alegre, se transformou na passarela diferenciada dos petistas. Aqui eles desfilavam, impolutos e de cabeça erguida, com a bandeira vermelha nos ombros. Qualquer atividade do PT levava milhares de orgulhosos petistas para as ruas. A Esquina Democrática e a Usina do Gasômetro, que os petistas transformaram em espaço exclusivo, ficavam vermelhos de tanta bandeira. Tudo se repetia no Brique da Redenção, nos domingos.

Durante 22 anos, até chegar ao poder, o PT foi o partido da pureza política.  Ninguém ousava compará-lo aos outros partidos. No PT não havia espaço para a política tradicional, tão comum entre os demais.

A partir de 2002, quando Lula foi eleito presidente, as coisas foram mudando. O metalúrgico pobre foi enriquecendo, seus “cumpanhero” começaram a sentir o gosto pelo dinheiro mais fácil, as negociatas partidárias se tornaram necessárias, assim como os conchavos. A corrupção foi se entranhando de maneira tão violenta, que desaguou no mensalão e, agora, no escândalo de R$ 80 bilhões da Petrobras. O metalúrgico pobre, hoje é um milionário burguês que desfruta, sorridente e indiferente, das belezas do capitalismo.

As bandeiras foram sumindo, aos poucos, das ruas de Porto Alegre. As multidões que se aglomeravam na esquina Democrática, no Gasômetro e no brique, foram diminuindo. Quem sabe por desilusão ou, em alguns casos, por vergonha.

Ontem, quando o PT decidiu promover um ato para comemorar seus 35 anos, esperava-se um grande número de militantes na esquina da Borges com a Rua da Praia. Não apareceram!

Além de petistas tradicionais, como Olívio Dutra e outros que ajudaram a fundar o partido, menos de uma centena de pessoas estava lá, muito poucos portando bandeiras. Elas devem estar enroladas, quem sabe aguardando que o PT volte a ser o que prometeu ser. Mas isso só vai acontecer quando o PT admitir que errou e curar suas próprias feridas. Até lá,continuará sendo um partido igual ou pior que os outros.

Tenham todos um Bom Dia!