Barusco diz que propina financiou
campanha de Dilma (PT) em 2010
Foto: Folha SP |
Em depoimento de cinco horas na CPI
da Petrobras, o delator Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal,
voltou a colocar as contas do PT no centro do escândalo de corrupção: ele
afirmou à comissão que foram solicitados 300.000 dólares do mega esquema de
lavagem de dinheiro para serem injetados na campanha de Dilma Rousseff à
Presidência em 2010.
Aos parlamentares, Barusco repetiu o
que havia afirmado em delação premiada à Justiça: Renato Duque, que exercia a
função de diretor de Serviços da Petrobras, fez o pedido de dinheiro
diretamente à empresa holandesa SBM Offshore. "Foi solicitado à SBM um patrocínio
de campanha, só que não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e
repassei num acerto de contas em outro recebimento. Foi para a campanha
presidencial em 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. A doação foi
ao PT, pelo João Vaccari Neto", afirmou.
Embora tenha afirmado não ter tratado
diretamente de indicações políticas com os diretores da Petrobras, o executivo
afirmou que, internamente, "havia rumores que o PT, através de José
Dirceu, teria indicado Renato Duque, e que o PP, através do deputado José
Janene, havia indicado o Paulo Roberto".
Após a sessão, o presidente da CPI,
Hugo Motta (PMDB-PB), disse que o depoimento de Barusco comprova que não há
razão para incluir o governo FHC na investigação. "O depoimento reforça a
ideia de que a CPI deve se focar no seu objeto. Ele deixou claro que recebeu
propina entre 1997 e 2002 por uma iniciativa individual', afirmou.
Vaccari - O depoimento de Barusco comprova o
envolvimento direto do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema de
corrupção da Petrobras. Em acordo de delação premiada, o executivo já havia
apresentado uma estimativa de Vaccari ter recebido de 150 a 200 milhões de
dólares em propina entre 2003 e 2013. "Como na divisão da propina cabia ao
PT receber o dobro ou um pouco mais, eu estimo que o partido deve ter recebido
o dobro do que eu", afirmou. "Eu sei que existia uma reserva de
propina para o PT receber", continuou. No acordo de delação premiada,
Barusco aceitou devolver à Justiça 97 milhões de dólares de dinheiro ilegal.
Nos corredores da Petrobras, Vaccari
era conhecido como um dos operadores da propina, ao lado dos empresários Mário
Goes e Shinko Nakandakari. O tesoureiro, conforme detalhou Barusco nesta
terça-feira, chegou a se encontrar com os diretores para negociar os pagamentos
na própria estatal. "Vemos aí o tesoureiro do PT se reunindo com diretores
para colher doações ao partido. É um verdadeiro assalto à Petrobras",
afirmou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), durante a sessão.
Vaccari também pegou dinheiro do
Gasene, uma rede de gasodutos construída entre o Rio de Janeiro e a Bahia. As
obras foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Eu sei
que a propina foi destinada a mim, ao Duque e à parte relativa ao PT. A gente
sempre combinava esse tipo de assunto com o Vaccari. Ele era o
responsável", disse o ex-gerente da Petrobras. O delator deixou claro que
a participação de Vaccari não era por conta própria, mas sim em nome do
partido. "O rótulo era PT", resumiu.
"Eu não sei quem deu procuração
para o Vaccari atuar nas empreiteiras, mas o fato é que ele atuava. Os
empresários todos o conheciam. Ele tinha interlocução com todos", afirmou
Barusco. O executivo também disse que encontrava Vaccari e Duque normalmente no
hotel Windsor Copacabana, no Rio de Janeiro, e no hotel Sofitel Sena Madureira
e no Meliá em São Paulo. Barusco detalhou ainda o clima de naturalidade na
negociação de pagamento de propina: "Com os empresários, Vaccari e Duque,
eram conversas negociais. Não houve extorsão nem constrangimento", afirmou.