segunda-feira, 13 de abril de 2015

Opinião

'É apenas o começo'

O ESTADO DE S.PAULO
13 Abril 2015


A Operação Lava Jato já dura um ano. Nesse período, graças ao depoimento de ex-executivos da Petrobrás, de doleiros e de donos de empreiteiras presos, se descobriu um gigantesco esquema de corrupção que sangrou a estatal numa dimensão ainda desconhecida, favorecendo partidos e políticos a mancheias. A sensação, passado todo esse tempo, é de que o País já sabia tudo o que havia para saber a respeito do maior escândalo de sua história. Mas eis que, no mais recente capítulo desse drama, anunciado na sexta-feira pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público, o Brasil foi informado, pela boca do procurador Carlos Fernandes Santos Lima, de que tudo isso é "apenas o começo".

Isso significa que o escândalo ficará a pairar, por muito tempo ainda, sobre o mundo político, como espada de Dâmocles a ameaçar de decapitação vários daqueles que hoje se movimentam para ganhar centímetros de poder em meio ao esfacelamento do governo. A situação torna também potencialmente inútil todo o esforço da presidente Dilma Rousseff e de seus (poucos) fiéis defensores para superar a crise política e econômica que engolfa a sua desastrosa administração. O mar de lama - é essa a expressão adequada - tende a tragar tudo o que encontrar pela frente.

O procurador Santos Lima se referiu ao futuro da Operação Lava Jato em termos épicos. Ele disse que a investigação adentrará "mares nunca dantes navegados" - uma referência ao fato de que o escândalo é muito mais amplo do que até agora se sabe. "Há indícios de fraudes além da Petrobrás", afirmou o delegado da PF Márcio Anselmo, coordenador da investigação, confirmando recorrentes suspeitas de que a quadrilha que tomou de assalto a petroleira agiu em outras estatais e também em Ministérios.

A 11.ª fase da Lava Jato apura indícios de irregularidades em contratos publicitários da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde. Foram presas sete pessoas, entre elas três ex-deputados - André Vargas, que foi do PT; Luiz Argôlo, do Solidariedade; e Pedro Corrêa, do PP. A operação foi apelidada de "A Origem" porque atinge os políticos cujo envolvimento no esquema do doleiro Alberto Youssef, pivô do escândalo, foi o estopim de toda a Lava Jato.

Segundo a PF, uma agência de publicidade comandada por Ricardo Hoffmann, também preso, tinha contratos com a Caixa e o Ministério da Saúde. A agência então subcontratava fornecedores de material publicitário. Na hora de receber desses fornecedores a comissão de 10% sobre o contrato - o chamado "bônus de volume" -, a agência os orientava a fazer o pagamento a empresas controladas por André Vargas e seu irmão Leon, que também foi preso.

O padrão é semelhante ao do mensalão, em que as agências de Marcos Valério desviavam dinheiro de contratos publicitários com estatais para financiar políticos da base aliada de Luiz Inácio Lula da Silva. A Polícia Federal suspeita que o esquema tenha se repetido com o mesmo objetivo, sem ter necessariamente vinculação com o escândalo da Petrobrás, mas com ao menos um ponto em comum: o doleiro Youssef.

As conexões não param aí. Outro personagem que aparece tanto no escândalo do mensalão quanto no atual é o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE). Segundo o juiz Sérgio Moro, que conduz o caso da Petrobrás, Corrêa recebeu propinas oriundas dos cofres da estatal no mesmo período em que estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal no caso do mensalão. Para Moro, Corrêa demonstrou "profissionalismo" na prática de crimes, além de evidente "desprezo" pela Justiça.

Sempre que novas revelações como essas são feitas nessa aparentemente interminável série de malfeitos, fica claro que a agenda do governo - e do País - está à mercê dos imprevisíveis desdobramentos das investigações que, conforme disse o delegado Anselmo, "ainda vão prosseguir por muito tempo". Assim, pode-se prever que o pouco que resta da capacidade de Dilma de governar, neste momento de crise cada vez mais aguda, não será suficiente para se impor ante a vaga de escândalos da qual, segundo seus investigadores, se conhece apenas a superfície.

Escritor e Jornalista

Morreu Eduardo Galeano


Eduardo Galeano - Foto: Reuters
Morreu na manhã desta segunda-feira, aos 74 anos, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em Montevidéu. Ele teve complicações decorrentes de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2007, e estava internado no Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai desde sexta-feira.

Galeano escreveu mais de 50 livros (traduzidos para cerca de 20 idiomas), entre documentários, ficções e obras jornalísticas, e tinha o futebol, as mulheres, a cultura e o continente latino-americano como principais temas de interesse. Sua obra mais famosa foi "As veias abertas da América Latina", que, desde sua publicação, em 1971, se converteu em um clássico da literatura política do continente. Entre os livros notáveis do uruguaio, está também a trilogia "Memória do fogo".

Nascido no dia 3 de setembro de 1940, aos 14 anos já vendia caricaturas para jornais de Montevidéu. Nos anos 1960, como jornalista, trabalhou no semanário "Marcha" e no diário "Época". Porém, antes de se tornar um jornalista e líder intelectual da esquerda, Galeano trabalhou como operário de fábrica, desenhista, pintor, office boy, datilógrafo, caixa de banco, entre outras ocupações.

Operação Lava Jato

Empresas ligadas a Vargas
receberam R$ 218 milhões
Foto: Agência Globo

Empresas relacionadas pelo Ministério Público ao ex-deputado federal André Vargas (ex-PT-PR) obtiveram pelo menos R$ 218 milhões em contratos com órgãos federais nos últimos cinco anos, segundo levantamento do Correio. Nesse período, a Caixa Econômica Federal e o Serviço Federal de Processamentos de Dados (Serpro) fizeram os maiores repasses. Vargas, ex-secretário de comunicação do PT, foi preso na sexta-feira, na 11ª fase da Operação Lava-Jato.

A empresa de tecnologia da informação IT7 Sistemas e a agência de publicidade Borghi/Lowe foram usadas, de acordo com a Polícia Federal e o MP, para injetar dinheiro em contas bancárias ligadas a André Vargas. As investigações apontam que a Borghi/Lowe repassou 10% de valores recebidos em contratos com a Caixa e o Ministério da Saúde para empresas de fachada controladas por Vargas e seu irmão Leon Vargas, também preso na sexta-feira.

No caso da IT7, R$ 2,3 milhões em notas frias foram emitidos para a contadora Meire Poza. Ela disse que o dinheiro chegou às mãos dos irmãos Vargas. De acordo com relatório da Receita Federal, os principais clientes da IT7 incluem órgãos públicos e estatais, “destacando a Caixa Econômica Federal e o Serviço Federal de Processamento de Dados, além de Celepar, CCEE, TJ-DF, Sefaz/PR e Companhia de Eletricidade do Acre”. Em 2013, a receita da empresa foi de R$ 77 milhões, sendo R$ 50 milhões apenas da Caixa. No Serpro, ela obteve praticamente o mesmo valor, R$ 52 milhões, mas entre 2010 e 2015.

Já a Borghi recebeu R$ 112,8 milhões do Ministério da Saúde. Também fechou em 2013 um contrato de R$ 80 milhões da BR Distribuidora, da Petrobras.

Bom Dia!

Ser elite, é crime?


Faz muito tempo que venho lendo e ouvindo declarações de pessoas ligadas ao governo federal, que as manifestações pedindo a saída de Dilma, de Lula e do PT do governo, são financiadas pela elite e que só ela participa dos atos.

Ainda ontem, 12, durante todo o dia, a cada foto ou notícia que apareciam na internet ou na TV, logo surgiam os comentários de que a elite estava nas ruas. E faziam uma mistura com imprensa marrom, midia golpista, e não sei mais o que.

Para completar, como os argumentos foram acabando, passaram a tentar diminuir os movimentos falando em fracasso e que as fotos publicadas eram antigas ou falsas. Claro, pegavam fotos do começo da manhã e mostravam no meio da tarde. Esqueciam, não por ingenuidade, que o grosso da movimentação se daria a partir das 10 horas da manhã e, em alguns caso, como Porto Alegre, durante a tarde.

Mas o que me impressionou, mesmo, foi a tentativa de "culpar a elite" pelo que estava acontecendo. E os comentários mostravam que, de alguma maneira, a "elite" não tinha o direito de protestar contra a corrupção e a mentira. Isso, na opinião de alguns iluminados, é exclusividade de negros e pobres. Se adonaram dos menos favorecidos e não abrem mão. Quem não é negro e pobre, é reacionário de direita e faz parte da elite.

Tenho inúmeros e queridos amigos negros e pobres. Pessoas honestas, que trabalham, enfrentam dificuldades e buscam seus espaços sem preocupação em ser elite ou não. Dentro de cada um existe a certeza de que elite é o trabalho, a família e os amigos. 

Mas o que impressiona, mesmo, é que o fanatismo de alguns não admite que alguém possa, através do trabalho, do estudo e da capacidade pessoal, progredir na vida. No momento em que alguém, que não é negro nem pobre, se destaca na sociedade, passa a ser elite, ou seja, um ser da pior espécie, sem direito a protestar nem se manifestar contra o que acha errado. Elite não pode.

Esquecem, provavelmente, que o ídolo maior de todos eles, o ex-presidente Lula, se transformou, durante e depois que saiu do governo, num dos homens mais ricos do Brasil. Mas, como ele segue falando mal da "zelite", não está incluído entre os odiados por seus seguidores.

Acho que, se não tivesse um pouquinho de inteligência, eu estaria convencido de que ser elite é algo extremamente nocivo, perigoso e que não dá ao cidadão o direito de manifestação. 

Pelo que li nos comentários dos mais fanáticos, todos os direitos de protesto estão reservados aos negros, pobres e tri de esquerda. Para eles, ser elite, é crime!

Tenham todos um Bom Dia!