quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Opinião - 2

Fazendo o diabo, de novo

Eliane Cantanhêde

A presidente Dilma Rousseff termina o ano de 2015 como começou, arrogante, errática e metida numa crise monumental, agora tentando escapar do impeachment sob um fogo cruzado: de um lado, a sociedade e o setor produtivo exigindo responsabilidade e ajuste das contas públicas; de outro, a pressão do PT para dobrar a aposta do primeiro mandato e priorizar uma política econômica populista em detrimento do bom senso e do desenvolvimento sustentável.

A mente e o coração de Dilma balançam entre uma coisa (botar a casa em ordem) e outra (ceder à tentação de agradar PT, CUT, MST e UNE). É aí que mora o perigo. Os sinais da presidente na reta final deste ano já tão dramático são no sentido de que, para tentar salvar o pescoço e a fidelidade dos movimentos alinhados ao PT, “faz-se o diabo”, como nas eleições.

Com a saída de Joaquim Levy, evaporou-se o último e pálido empenho de Dilma com os ajustes, a responsabilidade fiscal, a possibilidade de o Brasil recuperar a credibilidade externa e interna e se preparar para voltar a crescer em 2017. 

Com a chegada de Nelson Barbosa, aumentam as dúvidas sobre a capacidade de Dilma de fazer o que é preciso para tirar o País da crise.

Barbosa é um, digamos, “desenvolvimentista”, apegado à velha ideia – nunca admitida, mas praticada na “nova matriz econômica” – de que um pouquinho de inflação não faz mal a ninguém, desde que crie uma fugaz sensação de bem-estar em eleitores ou em entrevistados das pesquisas de opinião. Antes, era o “tudo pelo social”. Agora, é o “tudo pela popularidade periclitante de Dilma”.

Até um ato burocrático de ontem reforça emblematicamente essa opção de Dilma: a sanção de uma lei do Congresso que alterou de 50 para 10 anos o prazo desde a morte para a inclusão de brasileiros no Livro dos Heróis da Pátria. A medida tem um único intuito: transformar Leonel Brizola em “Herói da Pátria”.

A decisão, publicada no Diário Oficial da União nos estertores de 2015, tem simbologia, porque relembra a todos que Dilma foi do PDT e só o trocou pelo PT em 2001, às vésperas da primeira eleição de Lula para a Presidência. E que ela mudou de partido, mas manteve sua alma brizolista.

O que significa? O brizolismo foi construído em cima de quatro pilares: o combate à ditadura militar, de fato heroico; o caudilhismo; o velho “nacionalismo” que achava bacana fechar as portas aos investimentos e avanços internacionais; e o “estatismo”, pelo qual as canetadas do Estado seriam mais benéficas ao País do que a força e as potencialidades da parceria do setor privado com a sociedade.

Dilma é isto: foi uma guerreira contra a ditadura, tem uma alma mandona e é uma “nacionalista” às antigas e uma estatizante capaz de desestruturar o setor elétrico e de segurar artificialmente as tarifas públicas pela convicção de estar praticando o “bem”, o “justo”, “o que é melhor para o povo”.


Dilma e Levy eram como água e vinho, que nunca se misturam. Mas Dilma e Barbosa têm tudo a ver. E foi a aliança ideológica e de princípios econômicos entre eles que deu no que deu em 2015. Dilma pode querer dobrar a aposta, mas deve saber o quanto será perigoso, para o País e para ela, trocar a estabilidade e o futuro por um efêmero apoio do PT e de seus aliados. Eles nunca serão PDT, como Dilma nunca será PT.

Publicado no Estadão.com em 30/12/2015

Opinião

A palhaçada do Salário Mínimo!

O governo anunciou, com todas as pompas possíveis e imagináveis, que o novo salário mínimo, a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2016, vai recuperar o ganho dos trabalhadores. Para tal, foi aplicado um reajuste de 11,67%, elevando o mínimo para R$ 880 mensais.

Ainda ontem, na televisão, assisti ao ministro Miguel Rossetto vibrando com a “conquista dos trabalhadores” que, segundo ele, terão um ganho real e que ajudará na recomposição financeira do Brasil. Serão injetados não sei quantos bilhões na economia. Disse ainda que os aposentados serão beneficiados pois passarão a ganhar 11,67% a mais em seus salários. É bom lembrar que mais de 21 milhões de Aposentados brasileiros ganham, como benefício, um salário mínimo por mês, a maioria depois de ter trabalhado a vida inteira para conseguir a aposentadoria.

O salário mínimo, pelos cálculos e promessas do governo, deveria recuperar o poder aquisitivo dos trabalhadores, repondo as perdas com a inflação. É exatamente aí que entra a grande farsa, a verdadeira palhaçada que foi comemorada como grande vitória dos trabalhadores pelo PT. O ganho real com o aumento de 11,67% fica muito próximo de zero com a inflação oficial beirando os 11%. E vai aumentar, ou seja, o salário mínimo, muito brevemente, será menor do que o que era pago no ano passado.

A CUT – Central Única dos Trabalhadores – caso o governo não fosse do PT, estria nas ruas gritando contra o achatamento salarial, contra o crime cometido pelo governo contra os trabalhadores, principalmente contra os aposentados.

Mas, como o governo é defendido com unhas e dentes pela CUT e outros assemelhados, certamente seus dirigentes ficarão absolutamente quietos, calados como se tudo fosse a maior maravilha, como se tivesse sido alcançada uma grande vitória na luta dos assalariados.

E o governo, como fez o ministro Rossetto, seguirá iludindo, mentindo descaradamente querendo fazer acreditar que os pobres estão menos pobres e que o salário mínimo, cujo aumento não significa absolutamente nada diante da inflação assustadora, fruto da incapacidade demonstrada, a cada atitude, que o que estamos vivendo é um desgoverno nunca visto no Brasil, é uma maravilha proporcionada pelo PT.

Mas o pior de tudo, é que muitos, que ganham um pouco mais do que o mínimo, que sofrem as mesmas dificuldades seguirão defendendo o governo que ilude e cega, transformando a todos seus seguidores num bando de fanáticos que não conseguem, ou não querem, viver a realidade.

O aumento do salário mínimo é uma palhaçada, mas a CUT ficará calada diante de mais uma proporcionada pelo governo petista.


Machado Filho