Escalada irresponsável*
Diante das demolidoras evidências a cada dia reveladas pelas
investigações policiais, de que o ex-presidente Lula e o PT estão comprometidos
até o pescoço com a corrupção no governo, o lulopetismo decidiu apelar para a
melhor defesa que conhece: o ataque.
Em desespero, mobiliza suas tropas – constituídas basicamente
pela militância paga de entidades e organizações sociais como CUT, UNE, MTST,
entre outras – exortando-as ao confronto nas ruas com os opositores do governo.
E chegou à criminosa irresponsabilidade de convocar seus apoiadores a se
manifestarem, em São Paulo, em plena Avenida Paulista, no próximo domingo, dia
13, data há meses anunciada pelos movimentos de oposição ao governo e ao
lulopetismo para protestar contra o descalabro político, econômico e moral em que
Lula e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil e apoiar o impeachment da presidente
da República.
Desde que foi levado coercitivamente a depor na Polícia Federal
na sexta-feira passada e reagiu fazendo o papel de vítima não dos policiais
federais que o interrogaram, mas de uma conspiração armada para condená-lo,
ficou claro que, sem argumentos legais suficientemente fortes para se defender,
Lula optou pelo ataque, como sempre faz quando se sente acuado. Obedientes a
essa tática, os militantes petistas tentam exacerbar o confronto para que dele,
se possível, surja um mártir, uma vítima da sanha assassina das elites apoiadas
pela mídia golpista.
É isso o que pode acontecer se o lulopetismo lograr o intento de
colocar na Avenida Paulista, no próximo domingo – ou em qualquer outra cidade,
mas o evento de São Paulo tem relevante sentido emblemático –, um bando de
baderneiros dispostos a hostilizar a massa que estará exercendo o legítimo
direito de se manifestar em paz e deverá ser, de acordo com a previsão dos organizadores,
uma das mais numerosas dos últimos tempos.
Mesmo que acabem cedendo ao bom senso e não concretizem o
intento temerário de “botar a tropa na rua”, os petistas esperam que a simples
hipótese da ocorrência de conflitos seja suficiente para desencorajar os
antigovernistas e esvaziar a manifestação do dia 13.
Articulado com a estratégia da exortação ao confronto, um dos
mais proeminentes líderes do lulopetismo, o ex-ministro Gilberto Carvalho, em
entrevista publicada ontem na Folha de S.Paulo, advertiu
aqueles que, na tentativa de envolver Lula na Lava Jato, estão “brincando com
fogo”: “Espero que haja bom senso e que a Lava Jato volte ao seu leito natural
de combater a corrupção real e se desteatralize (sic), que as delações premiadas deixem de ser
instrumento de perseguição de um partido político”.
Combater a “corrupção real”, na opinião do piedoso Gilbertinho,
é deixar Lula e os petistas em paz, pois “(...) os campeões da corrupção estão
soltos, tendo suas penas reduzidas escandalosamente (...). Quem está ficando na
cadeia em Curitiba é o Marcelo Odebrecht, que se negou a fazer delação, e os
políticos. Isso é combater a corrupção?”.
Por esse raciocínio, quem colaborou com as investigações deveria
ser castigado com penas mais pesadas e quem respeitou a omertà mereceria a
liberdade e, quem sabe, uma condecoração.
Carvalho é categórico: “O doutor Sérgio Moro tem uma necessidade
de provar que os agentes do PT formam uma quadrilha e que o capo dessa
quadrilha agora é o presidente Lula”. Pelo peculiar raciocínio do ex-ministro,
Lula é intocável e mexer com ele é “brincar com fogo”.
Mas a ameaça para valer vem em seguida: se continuar a
perseguição a Lula e ao PT, “aí eu temo muito um processo que nos leve ao que
acontece na Venezuela, porque você vai levando ao processo de justiçamento, de
justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo”. Ou seja, o piedoso
Gilbertinho nos ameaça com um golpe de Estado e uma ditadura de fato, pois foi
isso o que aconteceu e ainda acontece na Venezuela. Grande democrata, esse
Gilbertinho!
*Publicado no Portal do Estadão em 08/03/2016