sexta-feira, 25 de março de 2016

Opinião - 2

Limites da boçalidade*

É próprio de uma democracia que cada cidadão seja livre para escolher suas posições políticas. Ir a uma manifestação pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, participar de um evento pró-governo, advogar por uma causa no seu círculo de amigos, simplesmente torcer reservadamente por um determinado desfecho da crise ou mesmo manter-se indiferente a tudo o que se refere ao mundo político – a liberdade política oferece muitas possibilidades ao cidadão. Essas possibilidades, no entanto, não incluem o uso dos órgãos públicos para fazer campanha político-partidária.

Uma ação assim seria evidente abuso, a atentar contra a isenção do Estado e a liberdade política dos demais cidadãos. Mas foi o que ocorreu na sexta-feira, dia 18 de março, quando o Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi usado para enviar telegramas alertando para o risco de um golpe de Estado no País.

No dia em que estavam previstas manifestações contrárias ao impeachment de Dilma, o diplomata Milton Rondó Filho – que é ligado a Miguel Rossetto, ministro do Trabalho, e já assessorou o MST – quis dar sua contribuição à causa petista e enviou, por meio da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty (Sere), mensagens de teor político-partidário a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior.

Expedida por volta do meio-dia, a primeira mensagem solicitava a designação de um servidor – de preferência, um diplomata – para se responsabilizar por “apoiar adequadamente” o diálogo entre o Itamaraty, a sociedade civil brasileira e organizações locais.

A segunda mensagem, enviada no meio da tarde daquele dia, retransmitia uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), com frases do seguinte calibre: “É momento de resistência democrática! Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.

Horas depois de enviada a segunda mensagem, a Secretaria-Geral do Itamaraty expediu um comunicado pedindo para “desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100.752 e 100.755”. Mesmo assim, uma terceira mensagem de teor político-partidário foi enviada. O telegrama 100.757 reproduzia a Carta aos Movimentos Sociais da América Latina, denunciando um “processo reacionário que está em curso no País contra o Estado Democrático de Direito”. Posteriormente, o Itamaraty informou que Rondó Filho foi “admoestado” e está impedido de emitir novas circulares.

O episódio é grave. Além do evidente uso da máquina do Estado para fins político-partidários, os mentores da aloprada ação – seria bastante estranho achar que Rondó Filho atuou sozinho, sem nenhum respaldo do Palácio do Planalto ou do famoso assessor da Presidência da República para assuntos internacionais – rebaixam o Brasil no plano internacional, como se o País não fosse suficientemente capaz de resolver seus assuntos internos. A ironia é que esse tipo de atuação parta de quem, diante de graves violações de direitos humanos em outros países – Venezuela, por exemplo –, sempre diga que se deva deixar cada nação resolver sozinha seus problemas internos.

Além do episódio de patrulhamento ideológico e infantilismo internacional do funcionário do Itamaraty, a chanceler argentina, Susana Malcorra, declarou que o Mercosul pretende divulgar “o mais rápido possível” uma nota de apoio institucional ao governo brasileiro. Segundo a chanceler, em caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff e em virtude da cláusula democrática do bloco, o Brasil poderia “eventualmente” ser temporariamente desvinculado do Mercosul. É sintomático do estágio em que se encontra o governo Dilma Rousseff que vá buscar apoio no inconsistente bloco sul-americano. Nessas circunstâncias, o desespero e a insânia dos lulopetistas em vias de perder preciosas boquinhas poderiam mesmo levá-los a pedir o apoio dos companheiros bolivarianos. Essa gente, afinal, tenta fazer do Brasil uma república bananeira sobre a qual possam reinar, boçais e soberanos.
*Publicado no jornal Estadão em 25/03/2016

Novo delírio de Lula

"É guerra e quem tiver 
artilharia mais forte ganha"


Ex-presidente se comparou a general em conversa com senador Lindbergh Farias

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou-se ao general Vo Nguyen Giap, comandante do Exército do Povo do Vietnã, emblemático estrategistas militar que fez tombar em batalha tropas francesas, norte-americanas e chinesas, ao declarar "guerra" aos investigadores da Operação Lava Jato - que investiga supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo o ex-presidente e sua família.

"É o seguinte meu filho eu tô com a seguinte tese: é guerra, é guerra e quem tiver artilharia mais forte ganha", declara Lula, em conversa por telefone com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), monitorada com autorização da Justiça Federal, do Paraná. O parlamentar responde ser aliado nessa batalha. "Presidente estamos nessa guerra também, não tenho nada a perder."

Os dois falam da persecução criminal em andamento em Curitiba e em Brasília contra o ex-presidente Lula e pessoas ligadas a ele, incluindo seus filhos. Os grampos foram autorizados pelo juiz federal Sérgio Moro - dos processos em primeira instância da Lava Jato - na fase que antecedeu a operação Aletheia. Deflagrada em 4 de março, o ex-presidente foi o principal alvo. Levado coercitivamente para depor, reagiu publicamente com ataques aos investigadores, a quem classificou de "um bando de loucos".

Lula faz referência ao estrategista de guerra vietnamita: "Você pode me chamar até de general Giap. Nós já derrotamos os americanos, os chineses, os franceses e estamos para derrotar a Globo agora". O ex-presidente e sua defesa têm atacado meios de comunicação, em especial a Rede Globo. Além perseguição política, no grampo da Lava Jato o ex-presidente conta ao senador ter conhecido o lendário general Giap. "Foi lá no Vietnã, estava bem velhinho já, levei a Dilma (Rousseff) para conversar com ele."

Giap ficou conhecido como Napoleão Vermelho, foi considerado herói nacional em busto histórico situado abaixo, apenas, do ex-presidente Ho Chi Minh - o pai da independência vietnamita. Os dois se conheceram no exílio no Sudeste da China. No Vietnã, recrutaram guerrilheiros para a insurgência vietcongue. Giap trabalhou como jornalista, antes de entrar para o Partido Comunista Indochinês.

"Vamos levar essa luta", responde o senador petista - também alvo de investigação da Lava Jato e com o nome citado por delatores.

Opinião

A culpa dos outros*

Acossado pela ameaça cada vez mais concreta de amargar um melancólico fim de carreira atrás das grades,  Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a noção do ridículo e abriu mão da responsabilidade imposta por sua condição de líder popular. Lula protagonizou na quarta-feira passada, em São Paulo, um comício em recinto fechado dirigido a líderes das centrais sindicais – todos identificados com pulseiras brancas atadas ao pulso direito – aos quais transmitiu importante palavra de ordem: a Operação Lava Jato é um dos principais responsáveis pela crise econômica, particularmente pelo aumento do desemprego e pelo consequente “pânico criado na sociedade brasileira”. Mas garantiu que, se o Congresso Nacional tiver “seis meses de paciência”, ele, Lula, produzirá o milagre de transformar o Brasil no “País da alegria”.

Afirmou Lula: “Essa operação de combate à corrupção é uma necessidade para esse país. Mas eu acho que vocês deveriam procurar a força-tarefa, o juiz, para saber o que eles estão discutindo sobre quanto essa operação já deu de prejuízo para este país. Será que não dá para combater a corrupção sem fechar as empresas? Já ouvi falar R$ 200 bilhões, R$ 250 bilhões de prejuízo”. E acrescentou: “Quando isso terminar, você pode ter muita gente presa, mas pode ter muita gente desempregada nesse país. Vocês têm que procurar a força-tarefa e perguntar se eles têm consciência do que está acontecendo nesse país”.

São inacreditáveis o cinismo e a irresponsabilidade de Lula. O subtexto de seu discurso é claro, ao estabelecer uma hierarquia entre valores como o combate à corrupção e os interesses dos assalariados, sugerindo que estes devem prevalecer sobre aqueles, como se fosse impossível a solução óbvia de compatibilizá-los. Lula quer induzir as lideranças sindicais a enxergar o combate à corrupção como prejudicial à “classe operária”. Quer ver os trabalhadores na rua atacando a Lava Jato e o juiz Sergio Moro e defendendo, na verdade, a impunidade dele, Lula, afastando os riscos de ter de pagar por ilicitudes que possa ter praticado em relações promíscuas com a elite representada pelos empresários e executivos corruptos das maiores empreiteiras de obras públicas do País.

As sucessivas derrotas de Lula, Dilma e o PT nos tribunais – só até certo ponto aliviadas pela decisão do ministro Teori Zavascki de manter o ex-presidente momentaneamente fora da jurisdição do juiz Sergio Moro – estimularam o lulopetismo a partir para um vigoroso ataque no campo político. Faz parte dessa estratégia, além dos recentes e frequentes pronunciamentos de Dilma Rousseff em atos públicos programados com esse objetivo, também a intensa agenda de encontros de Lula com lideranças políticas e com as chamadas “bases populares” do PT. A capacidade de mobilização dos petistas e das entidades e organizações sobre as quais o partido mantém forte influência já não é a mesma de tempos atrás, quando o PT e seus líderes eram exemplos de virtude, mas ainda é o trunfo mais valioso com os quais Dilma e Lula contam hoje para se livrarem do impeachment e da cadeia.

Essa estratégia, que se por um lado tem obrigado Dilma à tarefa ingrata de se haver com suas enormes dificuldades de manejar a língua e a lógica – na quinta-feira acusou a oposição de “criar motivos inexistentes” para atacá-la –, por outro lado coloca Lula exatamente no lugar em que se sente mais à vontade: o palanque. Eventualmente, o picadeiro, considerando a risível promessa de criar o “País da alegria” no fantástico prazo de seis meses.

Mas Lula acha que pode tudo, até mesmo considerar-se mais poderoso do que nunca, apesar de estar na incômoda situação de enfrentar entraves na Justiça para assumir o cargo de ministro e ficar a salvo das “perseguições” de Sergio Moro. Lula preferiria, é claro, livrar-se do magistrado que se tornou herói nacional por ousar tratá-lo, e a muitos outros poderosos, como cidadãos iguais perante a lei. Do alto de sua soberba, Lula continua se achando mais igual do que todo mundo e fala como se fosse o chefe do governo – o que, de fato, é, depois que Dilma Rousseff se dobrou a todas as suas exigências, no desespero de salvar um mandato que não exerce.

*Editorial do jornal Estado de São Paulo, edição de 25/03/2016

25/03/2016


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Pesquisas mostram que aposentadoria não se sustenta e reforma será inevitável

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A Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal vai pedir que o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, seja advertido pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A entidade quer ainda que o órgão encaminhe pedido de demissão de Cardozo

Estado de Minas - Governo e oposição lutam para atrair 141 deputados indecisos sobre impeachment
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O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, inicia hoje (25) a quimioterapia para combater um câncer raro e agressivo

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Portal Correio do Povo - Dilma diz que opositores usam "métodos fascistas"
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