No meu tempo, era diferente!
Está aí uma expressão que tenho um cuidado especial para
usar. Normalmente quem fala assim é considerado velho, não que eu não seja, ou
ultrapassado. No meu tempo significa, para muitos, que a pessoa não se adaptou
aos tempos de hoje e que é dotada de um saudosismo incurável.
Bem, mas vou explicar o motivo de começar meu comentário
com a explicação sobre o incômodo de ter que falar que “no meu tempo, era assim”.
Temos uma gatinha, lá em casa, que tem mais ou menos 18
anos. Quando chegou, era tão pequena que minha mulher era obrigada a dar leite
para ela num conta gotas. Um dia, sentamos para decidir que nome daríamos a
ela e como a estrela da época era a Demi Moore, sugeri que a gatinha se chamasse
Demi e expliquei que seria o máximo eu dizer “senta aqui no meu colo Demi”.
Mesmo contrariada, a Ana aceitou e a Demi está conosco até agora.
Mas já faz algum tempo que ela, provavelmente pela idade,
vem apresentando problemas físicos, está emagrecendo e caminha com dificuldades.
Minha mulher e minha filha estão se desdobrando em cuidados especiais com ela.
Ontem, quando fui deitar, fiquei pensando em como as
coisas mudaram, provavelmente para melhorar a vida dos bichos, mas certamente
para enriquecer as pessoas. E falo, por exemplo, nas rações que servimos aos
bichinhos nos dias de hoje. Claro que sei que elas são completas, balanceadas,
preparadas por especialistas. Ajudam na formação óssea, na melhoria dos pelos e
muito mais.
Mas no meu tempo, minha mãe dava sobras de refeições, não
restos, com tudo o que a gente comia. A cachorrada já vinha para perto da porta
quando sentia o cheiro da comida. E todos limpavam o prato que a mãe servia com
carinho. Depois bebiam a água colocada em latinhas pelo pátio.
Os gatos tomavam leite e também comiam o que minha mãe servia.
E cresciam, assim como os cachorros, fortes, sadios e nem se falava em pet-shops,
em comida especial e outras coisas tão modernas nos dias de hoje.
Repito, não sou saudosista nem me considero desinformado
ou fora da realidade. Hoje as fábricas de rações, no mundo inteiro, só crescem
e faturam verdadeiras fortunas com comidas industrializadas. Gatos e cachorros
nem chegam perto de pratos com comida feita em casa.
A Demi é um exemplo. Foi criada comendo ração, nunca
provou outro tipo de comida e várias vezes precisou procurar o veterinário para
tratar doenças que, também sei, podem chegar com a idade, mas que no caso dela não é bem assim.
Hoje, quando acordei, fui olhar para ela e, confesso,
fiquei com pena de ver a bichinha deitada ao lado da cama da Gabriela,
praticamente sem condições de se movimentar. A Demi que eu vi caber na palma da
mão da minha mulher está chegando ao fim, lamentavelmente.
No meu tempo, lá em São Gabriel, cachorros e gatos comiam
a comida que sobrava na cozinha e morriam “de morte morrida”, como diziam os
mais velhos da época. Não existia ração e veterinário só atendiam os rebanhos
dos grandes criadores de gado. Hoje é
tudo muito diferente.
Tenham todos um Bom Dia!