A melhor idade?
Esclareço, prá começo de conversa, que não posso me
queixar da vida. Tive uma infância normal, morando no interior, filho de militar, com mais sete
irmãos e, como não é difícil de imaginar, com muitas dificuldades financeiras
para meu pai que recebia no final do mês tão somente para pagar as contas. Mas
nossa família era feliz.
Minha juventude, já em Porto Alegre, foi normal, com
muitos amigos, bom colégio, reuniões dançantes e coisas do gênero. Tive algumas
namoradas, muitas delas nem ficaram sabendo, mas tive.
Comecei a trabalhar cedo quando tirei o segundo lugar num
concurso da Rede Ferroviária Federal. Fiquei um ano lá, mas não era do ofício.
Fui para São Gabriel ajudar meu irmão na farmácia dele e acabei radialista.
Fiquei um tempo como locutor da ZYO 2, Rádio São Gabriel e voltei para Porto
Alegre.
Aqui, trabalhei na prefeitura, comecei minha vida de
radialista e acabei ocupando espaço em alguns jornais da Capital. Casei, tive
filhos, tenho netos e hoje, aos 75 anos, que completo em junho, me considero um
cara realizado pessoal e profissionalmente.
Mas vocês devem estar perguntando sobre o título do
comentário. Pois é, com 75 anos, estou naquela fase da vida que se costuma
chamar de melhor idade. E deveria ser. Só que nem sempre as coisas são como deveriam
ser ou que se gostaria que fossem.
Que melhor idade é essa quando as doenças aparecem, o
organismo começa a cobrar pelo uso, quase tudo funciona precariamente e a gente
já não consegue fazer nem metade do que fazia antes.
Tenho três próteses na coluna, fiz cirurgia de catarata
nos dois olhos, na semana passada sofri uma crise de labirintite e o remédio
que estou usando provoca uma tremenda dor no estômago.
Calma lá. Não quero ser trágico nem ficar me queixando da
vida. Sei que isso é quase normal em pessoas da minha idade. Já não temos as
mesmas condições de antes e precisamos substituir muitas coisas por outras
menos, digamos assim, pesadas.
O que me faz pensar muito quando durmo mal e preciso
acordar cedo para trabalhar, é que se estou realmente vivendo a melhor idade.
Por um lado, existem as compensações como a tranquilidade
para decidir o que é melhor para minha família, a convivência com os filhos,
noras e netos, a alegria das conversas com minha mulher, o encontro com amigos
e os merecido descanso na casa da praia. São coisas que, no meu entender,
preenchem os espaços deixados pelas atividades que não consigo mais
desenvolver.
Mas sinceramente, afirmar com toda a convicção que esta é
a melhor idade confesso que, pelo menos para mim, é um pouco difícil. Claro que
ainda quero viver muitos anos, mas sinto saudades de coisas que hoje já não
posso mais desfrutar. O tempo passou e, com ele, chegaram outras coisas, mas
que nem sempre significam que esteja vivendo a melhor idade.
Por favor, não pensem que me considero velho, muito
pelo contrário. Como dizia aquele gaúcho numa propaganda: “estou me sentindo um
guri”.
Tenham, todos, um Bom Dia!