“Gurias, eu fico perplexo”
Jornalista Elóidy Rodrigues |
Nos anos 80, um time de jornalistas, alguns experientes, outros
nem tanto, trabalhava na Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa do Rio
Grande do Sul. O ambiente não era tão grande, mas cabiam uma sala de arquivo,
um estúdio de rádio, uma sala do Coordenador e outra do sub, cabines de
emissoras de rádio, a sala do João Carlos Terlera (ZH), uma de xerox e uma mais
ampla onde a gente dividia espaço, mesas e máquinas de datilografia.
Num canto, logo à esquerda de quem entrava, ficavam as
mesas em que nós, indicados por deputados do PDT, trabalhávamos. O Sadi Alves, o
José Luiz Prévidi, eu e, bem ao fundo, o Elóidy Rodrigues. Era ali que ele
cuidava do que apelidei de “túmulo do trabalhismo”, um armário de aço onde,
sempre que se precisava de algum documento sobre a história de algum
trabalhista, o Tata, como ele era conhecido, buscava todas as informações
necessárias em documentos, jornais, revistas e papelada guardada em uma de suas gavetas.
O Elóidy veio de Rio Grande, trabalhou nos Diários e
Emissoras Associadas, e se destacou como dono de uma voz bonita e de um talento
admirável. Era um dos “experientes” e não titubeava em se aproveitar dos anos
de jornalismo para, vamos dizer assim, passar tarefas aos mais moços. Sem maldade,
pois era um dos que mais trabalhavam quando exigido.
Chegava na sala de Imprensa por volta de 10 horas da
manhã, cabelos molhados e rigorosamente penteados, normalmente uma gravata,
daquelas antigas e largas, tomava um cafezinho, lia os jornais, dava uma olhada
no túmulo e, perto do meio dia, atravessava a Praça da Matriz e se dirigia ao
Bar do Darcy onde entrava falando alto e pedindo uma dose de um aperitivo que
ele apelidou de “Collares’" provavelmente pela mistura de ingredientes que davam
uma cor escura à bebida. Companheiros de PDT, quando o Alceu Collares ficou
sabendo, deu muita risada. Ninguém embrabecia com as tiradas do Elóidy.
Quando voltava para a redação, depois do almoço, pegava um cafezinho,
parava no meio da sala, olhava para os lados onde muitas jornalistas
trabalhavam e dizia: “Gurias, eu fico perplexo”. Jamais alguém ficou sabendo o
que ele queria dizer com aquilo, mas todos sabiam que, no outro dia, ele
repetiria a mesma coisa.
Pois na tarde de ontem, dia 27, o Elóidy, o Tata, nos
deixou. Tinha 80 anos, mulher, filhos, filhas e netos. Vai fazer uma falta
enorme, principalmente a nos, seus amigos, que nos acostumamos com o ar irreverente,
o comentário debochado, as tiradas inteligentes e o total conhecimento da
história do trabalhismo no Rio Grande do Sul.
Já estou imaginando o Elóidy encontrando alguns colegas
nossos que também já partiram, gritando que o Tata chegou, defendendo
ferozmente PDT e o trabalhismo e, certamente, contando a história de sua ida ao
Campeonato Mundial dos Estados Unidos. Antes do primeiro jogo, com um calor
muito forte, pediu uma lata de cerveja, pediu a segunda, a terceira, a quarta
e, na quinta, pensou consigo mesmo: “Já tomei cinco latinhas e não senti
nenhuma tonturinha! Estou ficando muito forte para cerveja”. Depois da sétima
lata se deu conta que a cerveja vendida nos estádios da Copa era sem álcool.
Assim era o jornalista Elóidy Rodrigues, o velho e
querido Tata!
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