segunda-feira, 28 de agosto de 2017

➤TRISTE!

“Gurias, eu fico perplexo”

Jornalista Elóidy Rodrigues
Nos anos 80, um time de jornalistas, alguns experientes, outros nem tanto, trabalhava na Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O ambiente não era tão grande, mas cabiam uma sala de arquivo, um estúdio de rádio, uma sala do Coordenador e outra do sub, cabines de emissoras de rádio, a sala do João Carlos Terlera (ZH), uma de xerox e uma mais ampla onde a gente dividia espaço, mesas e máquinas de datilografia.

Num canto, logo à esquerda de quem entrava, ficavam as mesas em que nós, indicados por deputados do PDT, trabalhávamos. O Sadi Alves, o José Luiz Prévidi, eu e, bem ao fundo, o Elóidy Rodrigues. Era ali que ele cuidava do que apelidei de “túmulo do trabalhismo”, um armário de aço onde, sempre que se precisava de algum documento sobre a história de algum trabalhista, o Tata, como ele era conhecido, buscava todas as informações necessárias em documentos, jornais, revistas e papelada guardada em uma de suas gavetas.

O Elóidy veio de Rio Grande, trabalhou nos Diários e Emissoras Associadas, e se destacou como dono de uma voz bonita e de um talento admirável. Era um dos “experientes” e não titubeava em se aproveitar dos anos de jornalismo para, vamos dizer assim, passar tarefas aos mais moços. Sem maldade, pois era um dos que mais trabalhavam quando exigido.

Chegava na sala de Imprensa por volta de 10 horas da manhã, cabelos molhados e rigorosamente penteados, normalmente uma gravata, daquelas antigas e largas, tomava um cafezinho, lia os jornais, dava uma olhada no túmulo e, perto do meio dia, atravessava a Praça da Matriz e se dirigia ao Bar do Darcy onde entrava falando alto e pedindo uma dose de um aperitivo que ele apelidou de “Collares’" provavelmente pela mistura de ingredientes que davam uma cor escura à bebida. Companheiros de PDT, quando o Alceu Collares ficou sabendo, deu muita risada. Ninguém embrabecia com as tiradas do Elóidy.

Quando voltava para a redação, depois do almoço, pegava um cafezinho, parava no meio da sala, olhava para os lados onde muitas jornalistas trabalhavam e dizia: “Gurias, eu fico perplexo”. Jamais alguém ficou sabendo o que ele queria dizer com aquilo, mas todos sabiam que, no outro dia, ele repetiria a mesma coisa.

Pois na tarde de ontem, dia 27, o Elóidy, o Tata, nos deixou. Tinha 80 anos, mulher, filhos, filhas e netos. Vai fazer uma falta enorme, principalmente a nos, seus amigos, que nos acostumamos com o ar irreverente, o comentário debochado, as tiradas inteligentes e o total conhecimento da história do trabalhismo no Rio Grande do Sul.

Já estou imaginando o Elóidy encontrando alguns colegas nossos que também já partiram, gritando que o Tata chegou, defendendo ferozmente PDT e o trabalhismo e, certamente, contando a história de sua ida ao Campeonato Mundial dos Estados Unidos. Antes do primeiro jogo, com um calor muito forte, pediu uma lata de cerveja, pediu a segunda, a terceira, a quarta e, na quinta, pensou consigo mesmo: “Já tomei cinco latinhas e não senti nenhuma tonturinha! Estou ficando muito forte para cerveja”. Depois da sétima lata se deu conta que a cerveja vendida nos estádios da Copa era sem álcool.

Assim era o jornalista Elóidy Rodrigues, o velho e querido Tata!

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