terça-feira, 2 de maio de 2017

➤Procurador da Lava Jato:

“Esperamos que o período fora da prisão seja curto”

Decisão do Supremo de soltar ex-ministro é considerada por decano
da força-tarefa, Carlos Fernando dos Santos Lima, uma 'destruição lenta' das investigações do maior escândalo de corrupção do Brasil


“Esperamos que o período dele fora da prisão seja curto.” A afirmação é do procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, um dos autores do pedido de prisão que levou o ex-ministro José Dirceu para a cadeia, em agosto de 2015.

A decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), desta terça-feira, 2, de revogar – por três votos a dois – a prisão preventiva que pesava contra Dirceu  foi o mais duro golpe contra a mega investigação de corrupção do escândalo Petrobrás, iniciada há três anos, em Curitiba.

“O que está acontecendo é a destruição lenta de uma investigação séria. Infelizmente acreditam que a população não está mais atenta, talvez anestesiada pela extensão da corrupção”, afirmou Carlos Fernando.

Votaram pela liberdade de José Dirceu, os ministros Gilmar Mendes, voto decisivo, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Contra a revogação da prisão, os ministros Celso de Mello e Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Na manhã desta terça-feira, 2, o Ministério Público Federal, em Curitiba, anunciou a terceira denúncia criminal contra Dirceu no esquema de corrupção instalado na Petrobrás e alertou sobre as necessidades de manutenção do petista, em cárcere. As duas denúncias anteriores já resultaram em condenações que somaram mais de 32 anos de prisão.

“Tentamos trazer novos fatos com a denúncia ofertada hoje. Não foi obviamente uma tentativa de constranger os ministros, mesmo porque sabemos que isso é impossível”, afirmou o decano da equipe de 13 procuradores da Lava Jato, em Curitiba, após saber da decisão do Supremo.
“É uma pena que não tenham levado isso em consideração.”

Durante o anúncio da terceira denúncia criminal contra Dirceu, o procurador da República Deltan Dallagnol destacou que a liberdade do ex-ministro “acarreta sérios riscos para a sociedade em razão da gravidade dos crimes, da reiteração delitiva e da influência do réu no ambiente político-partidário”.
Para Dallagnol, “situações extremas exigem cautelas extremas”.


Em fevereiro, o ministro Gilmar Mendes, que foi o voto de desempate no julgamento do habeas corpus que soltou Dirceu, já havia se pronunciado publicamente sobre as prisões da Lava Jato. 
“Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que determinam em Curitiba.”

Agência Estado

➤BOA NOITE!


O cantor e compositor, também cearense, Fagner, declarou que Belchior foi seu parceiro numa das músicas mais importantes de sua carreira. Ainda entristecido com a morte do compositor Belchior, fui catar um vídeo para lembrar esta música que ele canta acompanhado pelo violão de seu parceiro Fagner.

Para esta terça-feira, selecionei o vídeo em que Belchior, ao lado de Fagner, canta a belíssima Mucuripe 


➤Com votos de Toffoli, Lewandowski e Mendes

2ª Turma do STF decide tirar Zé Dirceu da cadeia

Zé Dirceu, que para os petistas é "guerreiro do povo brasileiro", vai deixar a cadeia.  Foto VEJA/Reprodução 
Por 3 votos a 2, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta terça-feira, revogar a prisão preventiva do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), homem forte do governo Lula. No julgamento de um habeas-corpus em favor do petista, José Antonio Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes afirmaram que agora cabe ao juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, estabelecer medidas cautelares contra o ex-ministro, como ordens para que fique em prisão domiciliar, que seja obrigado a comparecer periodicamente à Justiça, que não entre em contato com outros investigados no processo ou que use tornozeleira eletrônica.

Dirceu foi preso em 3 de agosto de 2015, nove meses após ter deixado o presídio da Papuda, no Distrito Federal, para cumprir prisão domiciliar no escândalo do Mensalão. Alvo principal da 17ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Pixuleco em referência ao nome usado por petistas para se referir a propina – o ex-ministro já foi condenado a mais de 31 anos de prisão por Moro por crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e pertinência da organização criminosa.


No julgamento, a maioria seguiu entendimento do ministro Dias Toffoli, que afirmou que não seria possível manter a prisão preventiva de Dirceu apenas com base em uma condenação de 1ª instância, feita pelo juiz Moro. Em seu voto, Toffoli disse que medidas menos lesivas, diferentes da carceragem de Curitiba, poderiam ser aplicadas no caso de Dirceu. “Subsiste o periculum libertatis [perigo de colocar o acusado em liberdade], mas ele pode ser obviado com as medidas cautelares, diversas e menos gravosas que a prisão, o que irá repercutir no direito de liberdade do réu”, disse.

O ministro questionou o critério de “atualidade” da prisão de Dirceu, uma vez que os fatos investigados ocorreram no passado e os temas que ensejaram a interpretação do risco de reiteração delitiva não existem mais. O magistrado disse que manter Dirceu atrás das grades significaria uma “punição antecipada”, já que ele ainda pode recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, segunda instância dos processos da Lava Jato. “O risco de reiteração [do crime] é remotíssimo. Não se pode impor ao paciente que aguarde preso indefinidamente eventual condenação no segundo grau de jurisdição”, disse Lewandowski.

“Estaríamos a impor prisão perpétua para que pessoas não voltassem a delinquir”, ironizou Toffoli. 

➤OPINIÃO

Um Macron tupiniquim?*

Polarização Lula-Bolsonaro abre uma vistosa 
avenida ao centro para 2018

Eliane Cantanhêde

A disparada do deputado Jair Bolsonaro para o segundo lugar da corrida presidencial, com 15% no Datafolha, é uma boa notícia para a direita, mas é melhor ainda para a esquerda. Assim como o ex-presidente Lula bateu nos 30% históricos do PT, Bolsonaro tende a bater rapidamente no teto da extrema direita e é o adversário que qualquer candidato pediu a Deus. Sem liderança, sem credenciais, sem propostas e sem ovelhas como as de Lula, arrisca-se a despencar do palanque ao primeiro sopro.

Num improvável segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o grande eleitorado de centro vai votar nulo ou tapar o nariz ao optar por quem é réu cinco vezes (por enquanto) ou quem representa o que há de mais retrógrado na política e na sociedade brasileira. Parece o fim do mundo, mas não vamos esquecer que o Brasil é um país de centro, seus cidadãos estão cada vez mais politizados e a polarização Lula-Bolsonaro abre uma avenida de oportunidades para um nome que não esteja atolado na Lava Jato nem seja um franco-atirador que remeta mais ao passado e à ditadura do que projete um futuro de renovação da política e das relações entre público e privado.

Muito se fala de Lula, que saiu de um casebre miserável, sacudiu num pau de arara até São Paulo, virou o maior líder de massas da história recente e o presidente mais popular, mas jogou tudo isso fora ao cair desavergonhadamente nos braços do grande capital, enquanto encenava o defensor dos pobres. Surgir nas delações de Marcelo Odebrecht com uma conta de R$ 40 milhões na empreiteira para usar a seu bel-prazer é arrasador.

Mas pouco vem se falando de Bolsonaro, um produto mais sociológico do que político. Quem se encanta com sua candidatura se identifica com posições contra os direitos e a independência das mulheres e dos gays e contra a importância da política e da democracia. E como garantiria a governabilidade, as relações com o Congresso, a participação de uma sociedade plural? Como administraria uma economia ainda recolhendo os cacos? Como se relacionaria com um mundo cada vez mais complexo?

Não é preciso nenhuma pesquisa para saber o tamanho do estrago da Lava Jato sobre a imagem de Lula, que se equilibra entre 30% de intenção de voto e 45% de rejeição, e de Aécio, que envelheceu na política com uma rapidez estonteante. Mas há dúvidas sobre Alckmin e Marina Silva, por exemplo, e sobre o fator Temer. E há João Doria...

Se há uma ameaça de fato à maior operação de combate à corrupção no Brasil e no mundo, é Lula e Aécio em 2018 e, principalmente, Lula eleito. Ele é o centro das investigações, pessoalmente atingido por sítios, triplex e contas ilegais e apontado como cérebro da corrupção institucionalizada, logo, sua vitória seria a derrota da Lava Jato. E como imaginar o trabalho monumental do MP, PF, Receita e Justiça desembocando num Bolsonaro, num novo Chávez?
Nenhum analista via Donald Trump com chances reais e lá está ele decidindo se ataca ou não a Coreia do Norte. De outro lado, todo o mundo assustava-se com a família Le Pen na França e eis que surge, pelo centro, Emmanuel Macron.
Aqui, tudo também pode acontecer. Depois de estar à beira da depressão econômica, derrapar na depressão política e afundar na depressão moral, o Brasil precisa levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Não será com um Trump tupiniquim, um Chávez falando português, um candidato que traz de volta os piores fantasmas nem um que seria um escárnio com a Lava Jato. Há uma avenida aberta ao centro e não se descartem Fernando Haddad e Doria, mas quem está sem identidade ou quem joga na rua as flores de uma boa causa ainda não mostrou condições de virar o Macron brasileiro.

*Publicado no Portal Estadão em 02/05/2017

➤Propina de R$ 2,4 milhões

Dirceu tem nova denúncia na Lava Jato 


O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) foi denunciado de novo nesta terça-feira pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), agora por receber mais de 2,4 milhões de reais em propina. Os valores, oriundos de desvios na Petrobras, teriam sido utilizados, em parte, para financiar a assessoria de comunicação do petista durante o julgamento do mensalão, informou o MPF em comunicado. Esta é a terceira denúncia contra ele.

De acordo com os procuradores, a acusação trata de crimes de lavagem de dinheiro praticados entre abril de 2011 e outubro de 2014 para permitir o recebimento por Dirceu de vantagens indevidas das empreiteiras Engevix e UTC Engenharia. “É chocante que o ex-ministro-chefe da Casa Civil tenha usado dinheiro da corrupção na Petrobras para contornar os efeitos negativos da descoberta de seus crimes. É o crime sendo usado para reduzir os prejuízos do crime descoberto”, disse o procurador da República Júlio Noronha, em comunicado.

Além do petista, a denúncia desta terça-feira inclui Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de Dirceu, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, e os empresários Gerson de Melo Almada e Walmir Pinheiro Santana, executivos da Engevix e da UTC. O caso é derivado de uma outra ação, na qual o ex-ministro já foi condenado, com repasses fraudulentos de cerca de 15 milhões de reais da Engevix para o seu grupo político, tendo como contrapartidas cartel e ajuste de licitações em ao menos cinco contratos da Petrobras, sobretudo nas refinarias de Presidente Bernardes, Presidente Getúlio Vargas e Landulpho Alves.

Naqueles autos, reconheceu-se que uma das formas utilizadas pela Engevix para limpar os recursos sujos oriundos dos crimes praticados contra a Petrobras ocorreu por meio do operador financeiro Milton Pascowitch, o qual custeou serviços, como reformas de imóveis, em benefício de Dirceu.

Assessoria de Imprensa

A denúncia apresentada nesta data descreve novos atos de lavagem por meio dos quais a Engevix, com a finalidade de ocultar e dissimular a origem criminosa de recursos desviados da Petrobras, encobriu pagamentos por serviços de assessoria de comunicação prestados no interesse do ex-ministro.

Segundo a acusação, Dirceu contratou, em 2009, a empresa Entrelinhas Comunicação LTDA. para prestar serviço de assessoria de imprensa. Como não conseguiu arcar com as despesas dessa contratação e desejava continuar recebendo o serviço, em 2011, a Engevix, por meio de seu executivo Gerson Almada, atendendo a pedido de Luiz Eduardo, quitou a dívida pela assessoria já prestada e pagou por sua continuidade até fevereiro de 2013. Os serviços incluíram a emissão de relatórios sobre a imagem de Dirceu perante a sociedade, o gerenciamento de entrevistas, a elaboração de artigos e até a organização do livro assinado pelo ex-ministro, “Tempos de Planície”.

Os documentos utilizados para lastrear a transação não refletem com precisão o prazo, os valores e os beneficiários envolvidos, mas apontam que a empreiteira arcou com 900 mil reais entre abril de 2011 e julho de 2012, garantindo a prestação de serviços até o ano seguinte. Os pagamentos foram ainda confirmados por provas coletadas pelo Ministério Público Federal, como afastamento de sigilo bancário e fiscal das empresas envolvidas, e oitiva de seus representantes.

UTC

As investigações apontaram ainda que Dirceu recebeu valores da UTC decorrentes de crimes praticados em detrimento da Petrobras. Recentemente, o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra Roberto Gonçalves, gerente executivo que sucedeu Pedro Barusco em 11 de março de 2011 na Petrobras, por seu envolvimento criminoso e recebimento de vantagens indevidas em decorrência do contrato firmado entre o Consórcio TUC e a Estatal.

Nesse contexto, Ricardo Pessoa e Walmir Pinheiro, ex-executivos da UTC, tinham plena consciência de que Dirceu fora o padrinho político responsável por indicar e manter Renato Duque na posição de diretor de Serviços da Petrobras, cargo este que foi por ele utilizado para beneficiar a UTC Engenharia em contratos com a Estatal. Desde 2007, eles assentiam com os pedidos de Duque e destinavam ao PT, por intermédio de João Vaccari, o valor de cerca de 1% dos contratos celebrados pela UTC na Petrobras, a título de propina.

Diante desse quadro, a UTC firmou, entre fevereiro de 2013 e outubro de 2014, aditivos contratuais fictícios com a JD Assessoria, empresa de Dirceu, para, com a aquiescência de Vaccari, lhe repassar mais de 1,5 milhão de reais em propinas.

Impunidade

Durante a entrevista coletiva em que foi apresentada a nova denúncia contra José Dirceu, os integrantes da força-tarefa ressaltaram a continuidade dos atos praticados pelo petista. Para o procurador Roberson Pozzobon, “a impunidade no país é tamanha que, no mensalão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil acreditava que sua responsabilização criminal por corrupção seria como um raio que não poderia cair duas vezes em seu quintal“.

Pozzobon ressaltou que os fatos analisados nesta denúncia ocorreram “mesmo durante e após” o julgamento do esquema de compra de votos no Congresso Nacional, pelo qual Dirceu foi condenado. Ele ainda cumpria prisão domiciliar decorrente da condenação quando foi preso pela Lava Jato, em agosto de 2015.

O ex-ministro já foi condenado duas vezes na operação, com penas somadas que superam 30 anos de prisão. Em maio de 2016, foi condenado a 23 anos pelo juiz federal Sergio Moro pelo recebimento de quinze milhões de reais de propina em contratos envolvendo a Petrobras. Em março de 2017, outra sentença: onze anos de reclusão também por recebimento de vantagens ilegais relacionadas à estatal.