Veja quem pode disputar
A aproximadamente um ano do período da propaganda
eleitoral no rádio e na TV da próxima eleição presidencial, caso agosto seja
mantido como o mês do início do horário ‘gratuito’, vários nomes da política
brasileira começam a se apresentar como postulantes da disputa de 2018. De
acordo com cientistas políticos ouvidos pelo Estado, ao menos oito
candidatos gravitam com mais energia em torno desse calendário: Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva
(Rede), Jair Bolsonaro (PSC-RJ), João Doria (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e
Joaquim Barbosa (sem partido).
Os pesquisadores fazem comparações entre os contextos das
disputas de 1989 e de 2018. Assim como hoje, aquele ano esteve marcado por
forte crise econômica e política. Enquanto lá o eleitorado retornava às urnas
depois do golpe militar em 1964, há pouco viu uma presidente ser afastada da
Presidência. “Nem com (Fernando) Collor (presidente eleito em 1989), você teve
um clima de partidos tão destroçados e uma política de tão pouca credibilidade
como se tem hoje”, compara Carlos Melo, professor do Insper. A professora de
Ciência Política da UFMG Mara Telles ressalta o sentimento impregnado nos dois
momentos. “Em 1989, era a esperança, 2018 é a eleição do desalento”, diz.
Um dos aspectos mais relevante, no entanto, da disputa de
2018 é o que chamam “fator Lula”. O equilíbrio das forças seria alterado com a
participação do ex-presidente nas eleições de 2018.
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Veja abaixo quais são os oito nomes levantados pela
reportagem com os acadêmicos da ciência política para a disputa do ano que vem.
LULA
O ex-presidente lidera em intenções de voto nos
levantamentos do Ibope. Lula, porém, foi condenado, em julho, pelo juiz Sérgio
Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Caso a segunda instância
confirme a sentença, Lula estará inelegível pela Lei da Ficha Limpa - que
impede que condenados em segunda instância concorram. Tudo depende de quando e
se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmar a decisão de Moro.
FERNANDO HADDAD
Apesar de lideranças petistas, inclusive o próprio
Fernando Haddad, repetirem que Lula é “plano A, B e C”, o ex-prefeito de São
Paulo é visto como nome viável caso Lula fique de fora da disputa. Haddad pode
tanto representar um novo discurso de renovação, que seria bem-vindo ao
partido, de acordo com Humberto Dantas, quanto capitalizar os votos de Lula, na
avaliação de Carlos Melo. “A condenação (de Lula) pode dar o tom de vitimização
necessário para reforçar o apoio dos militantes”, acrescenta o professor de
Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rodrigo Stumpf.
A professora Mara Telles, no entanto, relativiza. “Dilma
não foi um bom teste e, com isso, ele (Lula) reduziu a possibilidade de
transferir seus votos como antes. Acho que ele não consegue dialogar com
eleitorado lulista”, calcula.
CIRO GOMES
Ex-ministro de Lula, Ciro já disse publicamente que uma
chapa “dream team” seria composta por ele e Haddad como vice. A possibilidade é
remota, avaliam os professores, porque PT não deve abrir mão de candidato
próprio, e Ciro tampouco perderá a oportunidade de concorrer. Para Rodrigo
Stumpf, Ciro leva alguma vantagem porque “já se candidatou antes, então
demonstra uma certa viabilidade, se não de vitória, mas de estruturação de uma
campanha”.
MARINA SILVA
Ex-ministra com recall de 20 milhões de votos da última
eleição presidencial como candidata do PSB, sua maior fragilidade, apontam, é a
ausência dela no debate político. “Quando o País se dividiu entre petistas e
anti-petistas, ela não conduziu seu eleitor. Foi atropelada pela polarização”,
diz o professor Carlos Melo. Como o “Brasil é o País das vacas que tossem”,
segundo ele, ainda é possível que ela reverta a imagem e consiga se colocar
mais como uma protagonista política. Mas, por indícios, ele conclui que é pouco
provável.
JOAQUIM BARBOSA
Um nome que também aparece nas sondagens e no noticiário,
por vezes associado à Rede, é o do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa.
Inicialmente, Barbosa admitiu ter sido sondado por siglas, como a Rede de
Marina, e o PSB, e que estava analisando uma possível candidatura. Depois, em
jantar promovido por artistas que torciam por sua candidatura, negou essa possibilidade.
TUCANOS DE SÃO PAULO
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), preenche o
campo do candidato antilulista, ainda que reitere interesse em terminar seu
mandato na Prefeitura. Para a professora Mara Telles, o PSDB precisa que Lula
seja candidato. “É um discurso pragmático, o partido precisa do antilulismo para
aglutinar o eleitorado com o voto útil contra Lula”, diz. Se o ex-presidente
for impedido, o discurso de Doria morre. “Ele pode reinventar o discurso,
voltar a focar no gestor, no trabalhador, mas o discurso anti-Lula é melhor
para ele”, afirma Humberto Dantas. Doria, no entanto, tem reiterado o quanto é
leal ao padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, que já manifestou
desejo de voltar a disputar a Presidência.
“Se Lula estiver na disputa, Alckmin vai entrar
atacando o petismo. Mas não sei se funcionaria. Ele foi ‘jantado’ em 2006 (quando
Alckmin perdeu votos que já tinha para Lula no segundo turno)”, diz Humberto
Dantas.
Já um dos principais adversários de Doria é o deputado
Jair Bolsonaro (PSC-RJ. “Na França, o Nicolas Sarkozy (ex-presidente) teve
que começar a dialogar com a extrema direita, para conseguir votos que estavam
indo para Jean Marie Le Pen (candidato da Front National). Acho que isso
vai acontecer com João Doria aqui também”, aponta Mara Telles.
BOLSONARO
Bolsonaro, apesar de estar no Congresso há 26 anos, se
desponta como um crítico do sistema político. O paulista de Campinas se coloca
como pré-candidato e tem surpreendido os adversários com seu bom desempenho nas
últimas pesquisas. Na avaliação de Mara Telles, há dois principais motivos para
ascensão de Bolsonaro. “A emergência de Bolsonaro é um fruto da desconfiança na
política, principalmente pelo modo como foi conduzida a Operação Lava Jato,
criminalizando a classe política, indistintamente”, diz a professora. O segundo
motivo, defende, seria o crescimento do discurso de intolerância no contexto
internacional, com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos e Le Pen
chegando no segundo turno da corrida presidencial francesa.
Agência Estado