Um ano que já vai tarde*
2017 é um ano sem marca, com muita notícia,
muita espuma e pouco resultado
Eliane Cantanhêde
O ano de 2017 vai acabando sem grandes marcas, ou com
marcas mais negativas do que positivas. A três semanas do 31 de dezembro, cadê
a reforma da Previdência? No que a Lava Jato andou? Que político com mandato
foi julgado pelo Supremo? E o choque de empregos, que ninguém sabe, ninguém
viu?
Assim, o ano teve, ou está tendo, muita emoção, muita
notícia e muita espuma, mas poucos resultados efetivamente concretos, e o tempo
que lhe resta parece pouco para uma surpresa realmente impactante. Tudo sempre
pode acontecer, até mesmo nada. Parece o caso.
A reforma empacou por um problema comezinho: falta de
votos. O PMDB titubeou, o PSDB está perdido no meio da multidão e ambos
serviram de pretexto para os demais partidos da base aliada cruzarem os braços.
O novo coordenador político do governo, Carlos Marun, assume na quinta-feira e
admite quase candidamente que espera uma “onda positiva”. Ah, bem!
Já a oposição surfa num populismo barato, puxado pelo
ex-presidente Lula, que está careca de saber que a reforma é fundamental e que
não vai ameaçar as aposentadorias, mas sim garantir que elas sejam mantidas no
futuro. Assim como Lula não gastou um tico de sua imensa popularidade para
aprovar uma reforma que sabia essencial, agora ele lidera a gritaria da sua
“esquerda” contra as mudanças com o único intuito de atrapalhar a vida do
presidente Michel Temer, já, e a campanha dos adversários do PT, em 2018. E o
interesse nacional? Conta?
Na Lava Jato e seus desdobramentos, tivemos um ano de
grandes turbulências com duas denúncias consecutivas da PGR contra o presidente
da República. Convenhamos, nada trivial. Mas deu em quê? Num desgaste enorme de
Temer, na paralisia do governo, no troca-troca infernal para “convencer” os
deputados a votarem contra. No fim, as denúncias foram derrotadas e Temer
ficou, mas ficou fraco. E a turma da J&F foi para a cadeia.
Curitiba fez o que tinha de fazer e praticamente esgotou
sua parte nesse latifúndio (o da Lava Jato), até mesmo com a transferência de
quadros da PF e do MP para outros Estados. Mas a diligência de lá não parece se
reproduzir no resto do País, com exceção do Rio, onde toda a cúpula política
foi parar em Benfica, e do DF, onde as coisas estão acontecendo.
O nó continua sendo no Supremo. Alguém lembra da “lista
do Janot”, que virou “do Fachin”? E as investigações sobre os campeões Renan
Calheiros, Romero Jucá e Aécio Neves, por onde andam? E sobre a presidente do
PT, Gleisi Hoffmann? Todos disputarão as eleições, lépidos e fagueiros.
Se o Supremo julgou alguma coisa, foram o “caso Aécio”,
para os plenários ratificarem ou não medidas cautelares contra parlamentares, e
a revisão do foro privilegiado, que joga a responsabilidade para instâncias
inferiores, mas não garante que a Justiça seja feita. Aliás, o próprio ministro
Luís Roberto Barroso, arauto do fim do foro, já admitiu isso publicamente. E
esse julgamento nem acabou...
No Congresso, idas e vindas, sem chegar a lugar nenhum.
De um lado, as dez medidas contra a corrupção viraram um Frankenstein e estão
jogadas em alguma gaveta. De outro, a atualização da Lei Contra Abuso de
Autoridade fez que ia, mas não foi.
Ok, a economia dá sinais de ânimo, mas, além da
Previdência, Temer é obcecado por um choque de empregos. Há um aumento de
oferta de vagas, mês a mês, mas muito longe de poder ser chamado de “choque”. A
recuperação é lenta, enquanto o País e o presidente têm pressa.
Então, qual a marca de 2017? Nenhuma. Foi, ou está sendo,
um ano em que aconteceu tudo, mas não resultou em nada. Vai saindo de fininho,
deixando uma enorme interrogação sobre o decisivo 2018.
*Publicado no Portal Estadão em 12/12/2017