Os
juros e as boas expectativas
Qualquer
presidente recém-eleito deve sonhar com inflação moderada e juros baixos no
início de mandato, mas sonhos também têm custo. Para manter os preços calmos e
os juros básicos em 6,50%, o nível mais baixo em 20 anos, o novo governo deverá
mostrar, desde os primeiros dias, firmeza e competência na execução de uma
pauta de reformas bem conhecida dentro e fora do País. Há nos mercados fortes
sinais de confiança na próxima administração e isso pode contribuir para um
cenário econômico favorável. Mas qualquer frustração das boas expectativas pode
liquidar a confiança e eliminar a perspectiva de juros bem-comportados ainda
por vários meses. Nesse caso, a recuperação mais rápida da atividade e do
emprego será quase certamente prejudicada. A mensagem otimista aparece, assim
como a advertência, na ata da última reunião do Copom, o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (BC).
Um
dos melhores presentes para o futuro governo será a taxa básica de 6,50%.
Implantado em março, esse nível de juros foi mantido nas seis decisões
seguintes do Copom. A última reunião ocorreu nos dias 11 e 12 de dezembro e a
próxima está prevista para o começo de fevereiro. Até lá, e talvez por mais
tempo, o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe governarão com os juros básicos
mais baixos desde março de 1999, quando foi inaugurada a Selic, a atual taxa de
referência para atuação do BC, parte das transações com títulos públicos e definição
do piso de juros pelas instituições financeiras. Em condições normais, é
revista a cada 45 dias e seu nome completo é Sistema Especial de Liquidação e
Custódia.
Em
cada reunião, sempre realizada em dois dias, o Copom, formado por diretores do
BC, examina as condições e perspectivas econômicas nacionais e internacionais,
as projeções próprias e do mercado e o conjunto de riscos para a trajetória da
inflação e decide o nível da Selic, e, se for o caso, como ficarão outras
condições do crédito bancário. A política de juros do Copom tem contribuído
para a expansão dos empréstimos, facilitando o consumo de bens duráveis e, do
lado empresarial, a reposição do capital de giro em condições bem mais
toleráveis que as de anos anteriores.
Neste
ano, a recuperação da economia foi prejudicada muito mais pela incerteza
política do que pelo custo e pela disponibilidade de financiamentos. Também a
crise do transporte rodoviário, em maio, causou danos importantes e prolongados
à atividade econômica.
O
baixo nível de atividade, com desemprego ainda alto e ampla capacidade ociosa
nas empresas, tem sido um dos fatores considerados para a manutenção dos juros
básicos em 6,50%. Esses detalhes foram mais uma vez mencionados na ata da
última reunião do Copom. Riscos externos, como a alta dos juros americanos e as
tensões comerciais, têm sido analisados, mas continuam vistos como menos
importantes que os perigos internos.
Internamente,
o risco principal, segundo a análise do Copom, tem sido e continua a ser o da
frustração quanto ao avanço na política de ajustes e reformas. Esse ponto é
mencionado 7 vezes nos 29 parágrafos da última ata.
Duas
advertências são especialmente importantes. Em primeiro lugar, a continuidade
de reformas e ajustes é essencial para a baixa dos juros estruturais,
determinantes das condições de crescimento econômico equilibrado. Em segundo, a
frustração das expectativas pode afetar o comportamento dos agentes econômicos,
desajustar os preços e tornar necessária uma nova alta de juros.
As
boas expectativas incluem a aposta em taxas de inflação próximas da meta
oficial até 2021. Expectativas ancoradas, como dizem analistas do mercado, são
importante elemento de segurança quando se trata de inflação.
Até
agora, o presidente e sua equipe econômica têm sido mais vigorosos na retórica
do que claros na apresentação de uma política de reparação das finanças
públicas, incluída a reforma da Previdência. Confiança e expectativas bem
ancoradas são ativos preciosos e às vezes pouco duráveis. Desperdiçá-los
poderia ser desastroso.
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