Em 1984, na trilha
sonora internacional da novela Vereda Tropical, Sérgio Endrigo, compositor,
cantor e músico italiano, teve incluído um de seus grandes sucessos, Io Che
Amo Solo Te.
domingo, 11 de março de 2018
➤OPINIÃO
Uma bagunça*
Eliane Cantanhêde
Tem alguma coisa errada quando o líder das pesquisas é um
condenado e está com o pé na cadeia, o segundo colocado se empolga (e empolga)
com uma “bancada da metralhadora”, o presidente mais impopular da história
recente quer entrar na campanha e um ex-presidente que é réu e caiu por
impeachment se lança candidato como se fosse a coisa mais natural do mundo. A
sucessão tem nomes demais e candidatos viáveis de menos. Seria cômico, não
fosse trágico.
Está difícil decorar os nomes dos quase 15 candidatos e é
improvável que todos eles vão em frente. No tão falado “centro”, o presidente
Michel Temer dificilmente enfrentará uma campanha, o ministro Henrique
Meirelles não encanta nenhum partido e o deputado Rodrigo Maia tem resistências
do próprio pai, o ex-prefeito César Maia. Logo, o mais provável é que Temer,
Meirelles e Maia acabem desistindo e afunilando para Geraldo Alckmin, do PSDB.
E não é impossível que o MDB, com Meirelles, e o DEM, com Mendonça Filho ou o
próprio Maia, venham até a disputar a vice do tucano.
Apesar dos pesares e do futuro incerto, o PSDB é
considerável. Tanto que, na véspera de se lançar, Maia praticamente esqueceu os
demais adversários e disse à Rádio Eldorado que a rejeição ao PSDB é tão
grande que solapa as chances de Alckmin. Se o partido fosse tão irrelevante,
ele não se daria a esse trabalho.
No mesmo dia, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro
Gomes (PDT, ex-PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS) também se lançou, com a
expectativa de herdar os votos de Lula e prevendo o oposto de Maia: que o
segundo turno será entre ele e Alckmin.
O que diz o próprio tucano sobre o veredicto de Maia? Com
seu sorriso de esfinge, releva. Sua prioridade não é bater boca com adversários
de hoje, mas transformá-los em aliados amanhã, exatamente como fez com João
Doria e Luciano Huck.
Meirelles tem até 7 de abril, prazo das
desincompatibilizações, para decidir se vai ser candidato, conquistar a vice de
Alckmin (sua melhor hipótese) ou ficar onde está. Já Temer e Maia têm muito
tempo, porque podem concorrer nas posições que já ocupam e não têm muito a
perder enquanto testam suas chances e observam os cenários.
Amigos e interlocutores juram que Temer é candidatíssimo,
mas já imaginaram a imagem daquela corridinha de Rocha Loures com a mala todo
dia na propaganda eleitoral? E a sonora com o “mantém isso aí, viu?”? Já os de
Maia acham que ele empacar em 1% nas pesquisas não será grave, porque disputar
um novo mandato de deputado e voltar à presidência da Câmara está de bom
tamanho.
Também ao centro, mas fora do bolo de alguma forma
governista, Álvaro Dias (Podemos, ex-PSDB) e Marina Silva (Rede, ex-PT), um
muito regional, a outra sem estrutura partidária sólida. E, pela esquerda, há
os “nanicos” Manuela d’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), enquanto o nome
real do PT não vem. À direita, concorrem o deputado Jair Bolsonaro (PSL), com
ares de azarão e pronto a colher dissidentes do MDB e DEM, o banqueiro João
Amoêdo (Novo), esquecendo-se de que o eleitor nem entende, mas não gosta do
liberalismo puro, e o empresário Flávio Rocha, de que partido mesmo?
Quanto a Fernando Collor: ele voltou como senador por
Alagoas e jogou a segunda chance fora ao se unir ao então presidente Lula, seu
inimigo em 1989, para participar do butim da Petrobrás. Com uma Lamborghini, um
Porsche e uma Ferrari enfeitando a Casa da Dinda, é acusado de se beneficiar de
R$ 22 milhões (sem correção) no “petrolão”.
Collor se apresenta como “progressista e liberal”, mas há
adjetivos melhores para defini-lo e sua candidatura só pode ser piada, mas
ilustra bem uma eleição que está uma verdadeira bagunça. Aliás, nos Estados
também.
*Publicado no Portal do jornal Estadão em 11/03/2018
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